Sunday, April 8, 2012

Mons. Alfredo Pinto Dâmaso


Padre Alfredo(foto) como era conhecido, chegou a Bom Conselho no ano de 1918, sendo recebido muito bem pelos fiéis da paróquia. Tempos depois foi transferido para Águas Belas com a finalidade de resolver os problemas existentes entre políticos e os índios daquela cidade.
Por considerar os índios "os donos da terra", Pe. Alfredo chegou a se desentender com os políticos porque queria demarcar o patrimônio em favor dos nativos. Isto lhe custou muitos aborrecimentos levando-o, inclusive, ao Rio de Janeiro, onde em entrevista com Getúlio Vargas expôs o caso e conseguiu do então Presidente da República o compromisso de proteger os índios Funiôs. De volta a Águas Belas, conseguiu despejar das terras dos índios os ocupantes que se opunham a pagar foro. Após a resolução do problema, volta para Bom Conselho, mais ou menos no ano de 1930. Dias depois envolvendo-se em política, ao ponto de disputar a Prefeitura em campanha tendo como adversário o seu grande inimigo Cel. José Abílio. Era tão pública sua inimizade que sempre ao se referir ao coronel chamava-o de "O amarelo". Esta inimizade rendeu muitos episódios entre os dois.
Esta eleição foi considerada muito dura. Inclusive o governador do Estado, Carlos de Lima Cavalcanti, não acreditava na vitória de José Abílio.
Muitos fatos ocorreram durante a campanha e a eleição, chegando a serem anuladas duas secções pelo Tribunal Eleitoral e quase um ano depois foram autorizadas as eleições complementares. Foram designados dois juízes especiais, um para cada distrito, a fim de presidir as mesmas.
O grupo do coronel utilizou entre seus mecanismos a criação de uma ala feminina, chamada e treinada por gente de José Abílio. As moças tomaram as rua do Taquarí e da Prata, onde acompanhavam cada eleitor de braços dados até as proximidades das urnas. O matuto ficava envaidecido com a presença das moças bonitas e entregava-se ao esquema como se fosse brincadeira. Padre Alfredo tomou suas precauções. Foi até ao Juiz, denunciou que os eleitores estavam votando sob coação. O Juiz manda chamar José Abílio, com a finalidade de apurar a denúncia, ao que José Abílio responde com a seguinte frase:
- Apresentem um eleitor que votou coagido, que eu tomarei as providências!...
Como não apareceram provas, as eleições seguiram e o padre foi derrotado, cumprindo a profecia do coronel:
- O povo vai ficar com o padre na igreja e com o coronel na Prefeitura".
Assim padre Alfredo desistiu de ter um mandato público. No entanto, cresceu sua hostilidade pelo coronel, chegando a pedir ao mesmo que não mais frequentasse a igreja. Apesar de toda essa inimizade, a esposa do coronel sempre foi bem recebida na igreja pelo pároco.
Diante do tratamento recebido no Taquarí, o padre amaldiçoou o povoado e criou a Vila de Princesa Isabel, hoje conhecida por Rainha Isabel. Com o desenvolvimento da Princesa Isabel, o distrito de Taquarí, que era o maior do distrito de Bom Conselho, foi decaindo ao ponto de ser totalmente destruído.
Como pároco de Bom Conselho, todos os fiéis de sua época tem uma lembrança bonita do padre. Para uns ele fez o casamento, para outros batizou todos os filhos, e para outros deu primeira comunhão.
Sempre disposto, mesmo quando já estava bem idoso e doente, nunca se negou a fazer um atendimento a quem quer que fosse. Não tinha horário nem expediente, viajou durante muitos anos montado a cavalo ou em lombo de burro. No final da vida usava um jeep. Viveu na mais singela humildade. Apesar de ter vindo de família abastada e ser também capitão reformado do Exército, jamais demonstrou luxo ou qualquer desperdício.
Realizou grandes festas religiosas, sendo responsável pela tradição das comemorações religiosas da Semana Santa e da Quaresma, comemorada desde a quarta-feira de Cinzas até a Festa de Páscoa. De todas as festas religiosas a maior delas e mais bonita sempre foi a Quaresma e a Semana Santa, com Vias-Sacras, Procissão do Encontro, Procissão de Ramos, Procissão de Enfermos, Lava-Pés dos Apóstolos, Hora da Agonia, Procissão do Senhor Morto, onde as moças da sociedade representavam as figuras bíblicas envolvidas na Paixão de Cristo, como: os pecados, as virgens loucas e virgens prudentes, Ben-Hur, o cego de Jericó, Santa Verônica, Nossa Senhora, os apóstolos, as almas, São Tomé, todas vestidas caracterizadas como personagens, prontos para a dramatização do Auto da Paixão. Outras festas eram realizadas na paróquia como: Festa da Sagrada Família, Festa de São Sebastião, Festa de Nossa Senhora do Bom Conselho, Festa de Santo Antônio, Festa de Nossa Senhora das Vitórias, Festa de São Francisco, além da celebração dos meses de maio e de outubro. De todas as festas apenas as de São Francisco e de Nossa Senhora do Bom Conselho eram realizadas pelos franciscanos, auxiliados pelo Pe. Alfredo. Havia as festas dos distritos, também realizadas sob o seu comando e sua incansável fé e liderança.
Construiu a Ermida de Santa Terezinha, a casa do padre, na serra, para servir de local de repouso e retiro; a residência paroquial, um sobrado, chamado por ele de quixó, demolido por ocasião da construção da nova casa paroquial. Por ver muitas mulheres morrerem de parto, construiu a Pré-Maternidade Mãe Sertaneja, na rua Mons. Marques, uma mini-maternidade, que tinha uma sala de parto equipada dos instrumentos mais usados, com pequenos apartamentos e alguns leitos para as mães pobres.
Acolheu muitas mulheres para um atendimento médico ou mesmo pelos parteiros da cidade, Joaldi Soares e Dulce Guerra, pessoas que ajudaram milhares de crianças nascerem. Não esqueceu dos idosos: construiu e manteve por muito tempo o Abrigo São Vicente da Paula onde recolheu diversos idosos abandonados pela família.
Após algum tempo, resolveu construir um hospital. Batalhou o terreno e começou as obras. Quando a construção já tinha mais ou menos um metro de altura, Pe Alfredo adoeceu, enquanto celebrava uma missa na igreja de São Sebastião e desmaiou. Todos os fiéis ficaram surpresos e a partir deste dia ficou público o estado de saúde do pároco.
Muitos exames foram feitos, inclusive uma cirurgia, no entanto, tempos depois, precisamente no dia 29 de junho de 1964, Pe Alfredo faleceu no Recife.
Vários episódios sã relatados por pessoas que conviveram com ele.
Os mais conhecidos são os seguintes:
Por ocasião da construção do hospital, um senhor que tinha sua casa vizinho ao terreno do hospital resolveu construir o muro da sua casa mais ou menos um metro adiante do terreno do hospital. Por várias vezes o padre pediu que não construísse o muro até aquele ponto. Uma das vezes chegou a marcar com a bengala onde queria que desmanchasse. No entanto, o proprietário do muro não atendeu ao pedido do padre e no dia da sua morte, uma grande chuva caiu em Bom Conselho e o muro curiosamente caiu exatamente no local marcado pelo padre.
Outro fato curioso e de que nós tivemos notícia: Na hora em que Padre Alfredo faleceu no Recife, os sinos da Igreja da Aldeia, em Águas Belas, repicaram sem que tivesse alguém a igreja.
Não se sabe até que ponto podemos considerar folclore ou não, mas todas as pessoas que viviam até hoje podem contar estes fatos.
Na manhã do seu supultamento a população encarregou-se de limpar a estrada que dava acesso à Ermida e na hora do seu sepultamento reuniu-se uma multidão em Bom Conselho jamais vista e jamais repetida.(Fonte: Livro "De Papacaça a Bom Conselho", uma visão pessoal de Celina Correia Ferro)

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