Friday, April 13, 2012

Há 60 anos família de Lula deixava Garanhuns com destino à São Paulo.


Um retirante nordestino que, a exemplo de outros milhares, fugiu da seca para buscar uma vida melhor em São Paulo, numa viagem de 13 dias em pau-de-arara.
Nascido no agreste de Pernambuco, em Caetés que na época pertencia a Garanhuns, migrou para São Paulo em 1952 com a mãe e sete irmãos. Começou a trabalhar aos 12 anos como engraxate, formou-se torneiro mecânico pelo Senai, foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, fundou o Partido dos Trabalhadores(PT) e a Central Única dos Trabalhadores(CUT), elegeu-se Deputado Federal e por dois mandatos Presidente da República.
Em princípio, a família instala-se no Guarujá, litoral de São Paulo, mudando, em 1956, para a capital. D. Eurídice e seus 8 filhos passaram a morar num quarto nos fundos de um bar na Vila Carioca. A pobreza obriga todos a trabalhar, Luiz Inácio Lula da Silva, aos 12 anos, torna-se engraxate.
O Sr. José Francisco dos Santos(Zé Diné), foi o caminhoneiro que levou a família de Lula para São Paulo. O mesmo relembrou detalhes da viagem à repórter Mariana Amaro da Revista Veja em 2008.
Mariana: Como foi a viagem que o presidente Lula fez, ainda criança, para São Paulo?
Zé Diné: Começou às 5 horas da manhã de um dia de calor de 1952 e durou para mais de dez dias. O menino Lula quase ficou para trás.
Mariana: Como isso aconteceu?
Zé Diné: Logo que peguei a estrada, pediram para ir ao banheiro. Parei. Uns vinte minutos depois, disseram que todo mundo já estava no pau-de-arara. Como eram mais de 100, não tinha condição de contar. Perguntei de novo se estava todo mundo lá. Disseram que sim. Já tinha rodado uns 40 metros quando uma mulher gritou: "Meus filhos ficaram". Parei e vi dois moleques pançudos chorando e correndo atrás do caminhão. Um dia desses, o Vavá (Genival Inácio da Silva) me contou que era ele e Lula.
Mariana: Quanto o senhor cobrou pela viagem?
Zé Diné: Deles, eu não cobrei nada. Não tinham de onde tirar. Estavam passando necessidade. Um político amigo meu me explicou a situação e pediu que eu não cobrasse. Fiquei no prejuízo. O político me disse que eram oito pessoas. Quando eu cheguei, onze me esperavam. Como cada passagem custava 250 cruzeiros, deixei 2.750 cruzeiros. Eles não foram os únicos que vieram de graça. Eu levei mais de 100 000 pessoas para São Paulo. Não teve viagem em que não viesse alguém sem pagar.
Mariana: Mas era um bom negócio ser dono de pau-de-arara?
Zé Diné: Era ótimo. Cheguei a ter quatro caminhões para levar o povão do Nordeste para São Paulo. Juntei bastante dinheiro. Acabei perdendo quase tudo quando entrei na política. Em 1962, eu me elegi vereador em Garanhuns. Tive um mandato de seis anos. Fui do partido do governo militar, a arena(Aliança Renovadora Nacional). Gosto muito de política, mas, naquele tempo, tinha de ter dinheiro para entrar nela. Os eleitores exigem muito. Cobravam pelo voto. Queriam sapato, roupa, passagem, consulta médica...
Mariana: O senhor já votou em Lula?
Zé Diné: Nunca. Não votei nem votarei. Até a família dele dizia que ele era comunista, e eu sempre fui de direita. Aliás, tenho um grande desejo; gostaria de viver para assistir à volta do regime militar ao nosso país. Foi Pedro Álvares Cabral quem descobriu o Brasil, mas quem construiu o país foram os 21 anos de governo militar. Se for tirado o que o regime militar construiu, não fica nada.
Mariana: Depois da viagem, o senhor chegou a reencontrar o presidente?
Zé Diné: Sim. Em 2006, ele foi a Garanhuns e falou que queria me conhecer. Quando cheguei, esperei que fosse, pelo menos, me oferecer a mão. Ele falou para mim: "Dizem que foi o senhor que levou minha família e eu para São Paulo em 1952". Eu respondi: "Dizem não, é a realidade". Lula deve ter pensado que era mentira, porque me pareceu muito mal-agradecido. Depois, quis ver onde ficava a casa em que ele estava quando eu passei para buscar a família. Aí, foi um pouco mais simpático.
Mariana: O senhor se arrepende de ter dado carona a família de Lula de para São Paulo?
Zé Diné: Na vida, só me arrependo de não ter aprendido a ler direito. Se eu tivesse estudado, seria um Rui Barbosa.(Foto: José Francisco dos Santos, Zé Diné - Revista Veja)

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