Friday, April 27, 2012

SERAPIÃO NO PAU POMBO E VILA REGINA EM GARANHUNS


Quando chegou em Garanhuns por volta de 1908 Serapião gostava muito dos lugares poéticos da vadiação de criança, principalmente do Pau Pombo e Vila Regina do Paula Lopes. Recantos que tinham as suas características distintas, embora vizinhos, os mais pitorescos da cidade. Com a sua água magnifica, que abastecia toda a zona urbana, com seus banhos públicos em bicas de uma água sempre gelada e com as lavadeiras alegrando o Pau Pombo. Elas eram as mais conhecedoras da vida íntima dos hotéis, pensões e até dos seus patrões e dos políticos também.
Pagavam-se cem réis, ou um tostão como se dizia, por cada banho, em banheiros limpos e sempre bem caiados. Também ali iam as famílias, como esporte ou como atraente passeio, acompanhadas de veranistas. Aos domingos os banhos começavam às cinco horas da manhã.
Na Vila Regina, já aquela hora, estava o Paula Lopes, sempre muito bem vestido, lendo seus romances. Pouco conversava, mas observava muito as suas roseiras e o bom comportamento dos banhistas. Serapião acostumara-se com o pai aos banhos madrugadores, ou logo após à primeira missa. Cada banhista levava a sua toalha, sabão em um estôjo, e uma garrafinha para fechar o corpo. Mas enquanto aguardavam a sua vez, os banhistas davam um passeio por aqueles lugares pitorescos. O Parque da Vila Regina estava sempre muito bem cuidado, com uma variedade de crótons e outras plantas ornamentais. As senhoras preferiam um passeio até o Pau Pombo para conversarem um pouco com as lavadeiras, e saberem quais as novidades da terra...
As mais irreverentes da terra plantavam as suas barricas e junto colocavam uma tábua para bater a roupa. Eram dezenas de barricas colocadas em meio de um círculo, em espaços iguais entre uma e outras. E ai daquele que tocasse numa das barricas de bacalhau norueguês... As línguas eram afiadas. Muita roupa suja dos políticos foram bem lavadas, muito fuxico bem alinhavado, muitas horas de arregaço.
As lavadeiras mais moças batiam a roupa cantando modinhas do norte, algumas gostavam de uma reza de igreja, ou um côco sertanejo.
As obreiras mais avançadas na idade, com o seu cachimbo de um lado da boca, gostavam de fazer um mexerico inocente, contando o que sabiam da vida particular dos maridos das senhoras bisbilhoteiras. Segredos íntimos eram por elas dissecados e postos a pratos limpos. Esclarece Serapião, com certa malícia, que sempre ouviu dizer que no Pau Pombo os banhos as vezes, rendiam muito tempo e conversa.(foto: desenho de Ruber van der Linden, para o Almanaque de Garanhuns de 1937. Serapião foi por mais de dez anos Sacristão da Matriz de Santo Antonio).

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