Friday, April 13, 2012

Canção


Belarmino Dourado ao Dr. Souto Filho(em memória)

Acorda mulher formosa,
Junto às águas de cristal
A lua já beija a rosa,
Num beijo nupcial.

Entre as folhas orvalhadas
Dormem os silphos sonhando,
Ao som de brandas toadas
Dos bardos, que vão cantando.

Acorda, o rio o outeiro,
Se desata em mil canções,
Desde as trovas do barqueiro
Aos cantos das solidões.

Vêm em minha alma os fulgores
Plantar da fé que preciso;
Sorrirás, flor dos amores,
Basta-me a luz de teu riso.

Cresce a noite, abre a janela,
Que o luar banha de luz;
Desperta, é linda a aquarela
Que a natureza produz.

Já da aurora a branca estrela
Se esvae, qual pálida flor.
Ficas dormindo donzela,
Quando tudo diz amor?

Acorda, eterea faluá,
Num voar sutil de luz,
Lá do céu descendo de luz,
Boia nos lagos azuis.

Vêm ouvir a voz plangente
Da guitarra harmoniosa,
Que além se ouve doente
Na noite silenciosa.

Vêm ouvir, que a noite expira
No seio da criação,
"Na extrema corda da lira,
A derradeira canção".
(Jornal "O Sertão", em 25/05/1909).



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