Saturday, June 29, 2013

PARQUE D0S EUCALIPTOS DO MEU TEMPO

Desenho  a bico-de-pena de  Marcilio Reinaux
Hoje chama-se Parque  Euclides Dourado. No nosso tempo de menino chamava-se "Parque  dos Eucaliptos".
Uma das mais   agradáveis recordações  da nossa infância. Ali se dava uma "trisca" nas bicicletas; via-se as emas, os macacos, as cotias, porco-espinho e outros pequenos animais. Sorvete, pipoca, amendoim, confeitos faziam parte da alegria da criançada. Mas o que ficou mais permanente na nossa memória e na lembrança do Parque foi a beleza do Quiosque, branquinho de janelas azuis, onde, no seu telhado os pombos   arrulhavam. (Fonte:  Livro  " Colégio Quinze 85 anos, servindo a Deus, à Pátria e a Garanhuns de
 Urbano Vitalino e Marcilio Reinaux).


A GUERRA DOS PALMARES

Prof. João de Deus de Oliveira Dias

Mestre de Campo Domingos Jorge Velho e
seu filho Miguel Coelho Gomes pai de
Simôa  Gomes.


No fim do século XVII, em 1694, sendo governador de Pernambuco Caetano de Melo de Castro e dominando os escravos  pretos foragidos os quilombos dos Palmares, perturbando a vida econômica da província, pelos frequentes assaltos às fazendas e engenhos, em busca de gêneros e armas e à paz de mulheres ou "negras", com as quais pudessem amasiar-se nos seus feudos e redutos, fortemente entricheirados dentro da mata, contando com uma população de aproximadamente, quinze mil almas, resolveu o Capitão-Mor dar-lhes combate e, para esse fim, tendo recorrido ao Governador Geral, D. Matias da Cunha.

Robert Southey, em sua "História do Brasil", disse que "resolveu Caetano de Melo fazer um vigoroso esforço para extirpar os Palmares antes que eles se tornassem muito poderosos, recorrendo ao Governador Geral e solicitando o auxílio de Domingos Jorge Velho, Mestre de Campo de um regimento de paulistas, estacionado em Pinhancó, no sertão da Bahia, com uma  tropa de mil homens".

O Governador Geral, então, conseguiu do Rei de Portugal, D. Pedro II, a determinação expressa de que o referido  Mestre de Campo, Domingos Jorge Velho, grande sertanista, comandante de um terço de paulistas, que se encontrava no domínio da Casa da Torre, se encaminhasse para Pernambuco, a fim de exterminar os quilombos e reduzir, novamente, os pretos fugidos à escravidão primitiva.

Ernesto Enes, no seu livro "A Guerra dos Palmares", afirma que, já em 20 de julho de 1690, "informava aos oficiais da Câmara de Porto Calvo o Governador de Pernambuco, D. Antonio Felix Machado, Marquês de Montebelo, que brevemente sobe para o sertão dos Palmares o Mestre de Campo do Terço dos Paulistas, Domingos Jorge Velho, a tratar de sua conquista e da extinção dos negros fugidos que o habitam".
"Os negros fugidos aproveitaram da oportunidade para se recolherem nos Palmares, onde desfrutavam um solo fecundo e uma natureza privilegiada; onde os rios, as lagoas, a caça, a pesca, as matas e os frutos eram abundantes. É possível, e até certo ponto seguro, que nesta emergência de guerra, nem só escravos e cativos se utilizassem do seguro asilo dos Palmares, que também os negros libertos, mulatos, índios mansos a até brancos criminosos e desertores covardes procurassem ali o refúgio seguro contra as calamidades de guerra".

Foi assim que se constituiu e desenvolveu essa famosa Confederação dos Palmares, que quase ocupa inteiramente o século XVII e embora, para alguns autores, ela não passe de uma monótona revolta de escravos, para outros constitui uma república forte e organizada, e talvez até queiram ver nela os primeiros movimentos de independência da raça, senão a  constituição de um estado negro, que mereceu a crítica severa de Nina Rodrigues: "A todos os respeitos menos discutíveis é o serviço relevante, prestado pelas armas portuguesas e coloniais, destruindo de uma vez a maior das ameaças á civilização do futuro povo brasileiro, nesse novo Haiti, refratário do  progresso e inacessível à civilização, que Palmares vitorioso teria plantado no coração do Brasil".

D. João da Cunha Souto Maior, Governador de Pernambuco, em 8 de agosto de 1685, ao assumir o cargo, enviou esforços para que Fernão Carrilho intentasse uma segunda expedição aos Palmares, a qual foi realizada em 10 de janeiro de 1686, com aparente sucesso, em relação à sua excursão anterior, no governo de D. Pedro de Almeida, em 1677, na qual  fracassara dadas as suas atitudes dúbias, pelas quais foi punido com a prisão de cárcere.

Reabilitado na segunda entrada ao sertão de Pernambuco e Alagoas, com a efêmera vitória sobre os quilombolas, reclamou o rei com insistência as vinte léguas de terra que lhe foram prometidas em sesmaria, além de "88 mil réis de tença nos dízimos das terras dos Palmares e de outra tanta quantia a seu filho pelos serviços que havia feito naquelas guerras".

Não obstante, essas guerras e muitas outras anteriores, que moveram aos quilombolas os expedicionários D. Pedro de Almeida, em 1674, e D. Manuel  Lopes, 1675, os pretos foragidos, uma vez reorganizados os seus arraiais, continuaram as sortidas  invasões das fazendas e currais de gado dos vaqueiros sertanejos, e dos engenhos da zona da Mata, motivo que levou o Governador D. João da Cunha Souto Maior, em de 11 de março de 1687, a pedir a EL-REI D. Pedro II o auxílio do sertanista paulista Domingos Jorge Velho, segundo documento publicado por Ernesto Enes: "No princípio do meu governo, comecei logo a entender na guerra dos Palmares, movido das contínuas queixas que me faziam os moradores das vilas que lhes são vizinhas, requerendo-me acudisse a socorrê-los, porque os negros, vendo  a pouca oposição que lhes faziam, se desaforaram mais do costumado. Na mesma ocasião, tive notícias que uns homens da Vila de São Paulo se achavam no sertão do rio São Francisco, ocupados com os seus esquadrões na acostumada conquista dos gentios; mandei-os convidar que me quisessem ajudar na guerra que determinava fazer, assegurando-lhes mercês e prêmios, em nome de Vossa Majestade; entraram as doenças e com uma nova vaga que conceberam de que eu era falecido, se frustaram  todas as minha esperanças, porque faltou o seu socorro. Neste mês de março, mandaram uns enviados pelos quais me representaram que se achavam com poder bastante para se disporem á empresa, com pouco  dispêndio da fazenda de Vossa Majestade, e que só queriam remuneração da conquista dos negros que asseguram, e aceitasse alguns partidos com que acometiam; eu os aceitei, por me parecerem convenientes, e lhes fiz outras promessas, com que se  despediram satisfeitos, providos de algumas munições com que os mandei socorrer. Já dei conta a  Vossa Majestade dos primeiros progressos desta empresa. Agora que se oferece este caminho tão fácil e tão certo para se conseguir a vitória mandará Vossa Majestade dispor o que mais conveniente a seu serviço; eu tenho por sem dúvida, segundo o parecer de todos que só por meio poderão os moradores de Pernambuco livrar-se do pejo que está má vizinhança lhes causa; do que Vossa Majestade resultará a glória de ver livre de tanta opressão estes seus vassalos e acrescentada muito a sua real fazenda; como também acabada uma guerra que tantos desvelos tem custado em tantos anos".

O grupo sertanista Domingos Jorge Velho uma vez convidado que foi para combater os quilombolas no sertão dos Palmares, pelo Governador D. João da Cunha Souto Maior, após a lavratura do contrato no dia 3 de março de 1687, quando apresentou as suas reivindicações, o Governador Geral, D. Matias da Cunha, o envio para os sertões do Rio Grande do Norte e do Piauí, a fim de exterminar os silvícolas de raça Cariri (Janduins e Canindés) que se haviam rebelado e assolavam aquelas capitanias do Nordeste.

Acompanhado do Capitão Ajudante Luís da Silveira Pimentel, do Capitão Cristovão de Mendonça Arraes, do Capitão Antônio Mendes da Silva, do sargento-Mor Miguel Coelho Gomes, seu filho, pôs-se em marcha, naquela data de 3 de março, com os seis mil homens, segundo assevera Robert Southey, à frente do seu terço composto de 850 índios frecheiros e de 150 soldados brancos, como ele próprio confirmou depois em carta,  escrita do seu punho a EL-Rei D. Pedro II "desta guerra estava formado o meu terço, a saber de oitocentos e tantos índios de cento e cinquenta brancos, quando ao chamado de Vossa Majestade e do seu Governador João da Cunha Souto Maior".

Esta campanha de extinção do gentio Cariri durou cinco anos (1687 a 1692), em que os silvícolas desolados e batidos pediram a paz, que o Governador Feral D. Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, sucessor de D. Matias da Cunha, lhes concedeu pelas capitulações de 10 de abril de 1962, que Ernesto Enes cita e transcreve o seguinte trecho da carta datada de 18 de junho do mesmo ano, em que diz: "em 17 de abril deste ano, vieram a esta cidade (do Salvador) os dois maiorais Tapuias, moradores na Capitania do Rio Grande, Campos do Assu, que há 5 para 6 anos fazem guerras aquela Capitania, com notável dano dela, e me vieram pedir pazes, e também em nome do seu rei Canindé, eu lhas concedi por me parecer conveniente ao serviço de Deus e de Vossa Majestade e o pouco proveito que se tem tirado daquela guerra e a despesa que nela se tem feito", e cujas capitulações eram as que seguem na linguagem em que  foram apresentadas: "Em 5 de abril, deste presente ano chegaram a esta cidade da Bahia, Joseph de Abreu Vidal, tio do Canindé rei dos Janduins, maioral de 3 aldeias sujeitas ao mesmo Rei, e Miguel Pereira Guaveju Pequeno, maioral de 3 aldeias sujeitas também ao mesmo rei Canindé; e com eles o Capitão João Paes Floriano Portuguez, em nome do seu  sogro putativo chamado Hhongugé, maioral da sua aldeia Sucuru, da mesma nação Janduin, dividida em 22 aldeias, sitas no sertão que cobre as capitanias  de Pernambuco, Itamaracá, Parahyba e Rio Grande, nas quais há de 13 para 14 mil almas e 5 mil homens de arcos, destros nas armas de fogo; e vindo estes maiorais nomeados com mais de 15 índios e índias que os acompanhavam à presença do sr. D. Antonio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho, Governador Geral do Estado do Brasil, lhe representou o Principal Joseph de Abreu Vidal, em língua portuguesa não bem falada, e pelo dito Capitão João Paes Floriano, seu interprete, foi dito que eles vinham de 380 léguas a pedir e estabelecer com o dito sr. General, em nome do rei dos Janduins-Canindé, uma paz perpetua para viver a sua nação e a portuguesa como amigos".

Apaziguados os ânimos do gentio Cariri e ferro e a fogo, pelas tropas aguerridas do grande sertanista Domingos Jorge Velho, que deixaram os campos dos rios Assu e Piranhas, bem como das serras do Araripe e do Ararobá talados, com o  consequente morticío de milhares de silvícolas das tribos Canindé, Janduin, Icó e Sucuru, regressou, então, o intrépido Mestre de Campo, em fins de 1692, aos campos dos Unhanhu, ou campos dos Garanhu, em cujas cercanias, nos bosques frondosos de serras escarpadas, permaneciam emboscados os pretos dos quilombos.

Assim era a situação na serra da Barriga, nas proximidades de União dos Palmares, onde se havia estabelecido em mucambos, que dominavam penedias e escarpas, rodeados de  profundos fojos e cercados de sucessivas estacadas, o rei Zumbi, "chefe da Tróia dos negros voltados à vida bárbara", na expressão de Oliveira Martins.

Viviam, deste modo, os quilombolas embrenhados na escuridão das florestas, nos desvãos das grotas, em vigilantes posição de tocaia, contra os brancos escravagistas.

A imensidade da mata virgem, ocupada pelos negros dispersos em seus arraiais, era um  permanente perigo que urgia remediar, máxime quando a área coberta tinha uma extensão de 1.060 léguas quadradas, constituindo um paralelograma, na citação de Ernesto Enes, "que começando na serra de Haca dos campos dos Unhanhu, corre 10 léguas ao sudoeste, e dela corta ao nordeste até topar no rio Ipojuca que são os rumos da costa de Pernambuco, desde o rio São Francisco até o Cabo de Santo Agostinho, com 20 léguas de largura".

Domingos Jorge Velho, então, após haver entregue a direção da guerra dos gentios ao seu conterrâneo, o sertanista Matias Cardoso de Almeida, a mando do Governador Geral, marchou para os Palmares, varando muitas léguas o sertão de Pernambuco, em procura dos negros rebeldes, desfalcado de mantimentos e munições.

Localizando os Palmares, a 10 de novembro de 1692, Domingos Jorge Velho e os seus homens "trataram logo de guerrear estes negros rebelados, cousa que lhe não foi fácil nesse princípio pela pouca experiência que tinham das traças, astúcias e estratagemas desse inimigo, e nenhum  conhecimento das disposições destes países, mui fragoroso e mal penetráveis", segundo Rocha Pombo na sua clássica História do Brasil.

Aí encontraram os reforços que lhes havia enviado o Governador Marquês de Montebelo, assevera Ernesto Enes, "constituídos por uma tropa de 60 homens, moradores da Capitania das Alagoas e outra dos moradores do Porto Calvo, os primeiros, tanto que viram que da primeira investida não se pode levar uma cerca adiante da qual a acharam, desmaiaram, e temendo que lhes faltasse de todo o mantimento que lhes restava retiraram-se outra vez para as suas casas, e os segundos (os do Porto Calvo) fizeram o mesmo do meio do caminho...", o que obrigou a Domingos Jorge Velho, que "também estava totalmente falto de tudo e o terço muito destroçado de fomes e marchas, também descesse a buscar refazimento".

A verdade era, porém, comenta Ernesto Enes, que Domingos Jorge Velho encontrara tamanha resistência da parte dos negros, que não conseguira abrir brecha no arraial onde se achavam fortificados por "três ordens de cerca e muitos fojos e estreparia da banda de fora e da primeira carca à segunda tudo era cava, com duas andainas de torneiras, umas rentes ao chão e outras mais acima..."

Domingos Jorge Velho, então, baldo de recursos, comunicou ao Governador de Pernambuco, que "o negro está deliberado a morrer dentro da estacada, pois está inexpugnável", motivo pelo qual, assevera Rocha Pombo, "obrigaram o sertanista a retirar e o mandaram com a sua gente para uma praia deserta, sem nunca os socorrerem".

Esta praia deserta era a fluvial do riacho Paratagi, que desce da terra dos Unhanhu (Garanhun) e que, segundo Rocha Pombo, foi onde o bandeirante paulista se demorou, durante dez longos meses, imobilizado até o fim de 1693.

Domingos Jorge Velho permaneceu, portanto, empatado dez meses naquele recanto embrejado da serra dos Garanhuns, retido pelas intrigas, segundo Ernesto  Enes, "de algumas pessoas interessadas na conservação deste estado de coisas", que muito o molestaram.

O Governador Caetano de Melo de Castro, entretanto, cerrou ouvido às conversas dos mal intencionados e prestou auxílios ao Mestre de Campo paulista, com tropas e munições de guerra e, no fim "desses enfadonhos dez meses passados na praia deserta do riacho Paratagi, logo que recebeu as ditas munições de guerra a nenhuma de boca, pôs-se em marcha com o seu terço só". Pôs-se em marcha, à procura dos quilombolas, com seu terço dizimado de tanta gente, que perdera  campanha do sertão do Rio Grande do Norte, do Ceará e do Piauí, não contando, então, "mais que de seiscentos soldados do gentio e de quarenta e cinco brancos", segundo o seu próprio relato em carta de atestado, expedida logo depois da guerra.

Os auxílios enviados pelo Governador de Pernambuco, Caetano de Melo Castro, eram constituídos "de muitas pessoas ricas de Olinda e Recife, as quais voluntariamente, quiseram ir naquela expedição, impelidas do próprio valor e da vingança, que esperavam tomar daqueles inimigos pelos danos que lhes haviam causado, comandados pelo Capitão-Mor Bernardo Vieira de Melo, bem como algumas companhias mais mais luzidas tiradas dos dois terços de infantaria de Pernambuco", segundo Rocha Pombo, e gente comandada e capitaneada pelo Sargento-Mor Sebastião Dias, e outros que só "do Natal até 12 de janeiro de 1694 se lhe foram ajuntando, tropas auxiliares dos moradores e de infantaria paga, com as quais começou o bloqueio à fortificação dos negros, durante cerca de vinte e dois dias".

A cidadela negra compunha-se de "uma cerca muito forte de 2.470 braças craveiras, com torneiras a dois fogos a cada braça, com flancos, redutos, faces e guaritas, coisas antes não usadas deles; e os exteriores tão cheios de  estrepes ocultos e de fojos cheios deles, de todas as medidas, e uns de pés, outros de gargantas, outros de verílhas, que era absolutamente impossível chegar à dita cerca, ao redor".

"E por o lugar ser muito escarpado e íngreme, mal aparecia um soldado na extrema da estreparia para especular e tirar algum estrepe, que era pescado da cerca nem lhes era possível fazerem aproches, que a espessura da raizama do mato era tanto, que não dera lugar a cavar, dado que houvesse com que..."

Reunidas as forças e invadida a  cidadela negra pelo Mestre de Campo Domingos Jorge Velho e os seus comandados, na noite de 5 de fevereiro de 1694, foram impiedosamente massacrados cerca de quinhentos pretos e escravizados outros tantos, fora os que conseguiram evadir-se sem contar o avultado número de mulheres e crianças, que viviam naquele reduto fortificado.

O rei Zumbi, mal ferido, foragiu-se, com parte do seu exército, e a outra parte, vendo-se perdida, arremessou-se do alto da penedia, na qual se encastelara.

A luta foi tremenda, dentro da escuridão da noite, com refregas de lado a lado, pois os quilombolas uma vez cercados, reagiram como puderam, com "armas de fogo e flechas disparadas dos seus baluartes, bem como a água fervente e brasas acesas lançadas pelas estacadas, do que recebiam os invasores  muitas mortes e ferimentos..."

Desde modo, ficou aniquilada a célebre Tróia negra e extinta a terrível Confederação dos Palmares que muito sangue e dinheiro custou à Colônia e à Metrópole.

Em resumo, essas expedições para prear os silvícolas, combater os holandeses e exterminar os negros dos "quilombos", muito concorreram para o descobrimento e povoamento da região garanhuense.

Foi portanto, com o estabelecimento dos índios cariris nas serras componentes do sistema orográfico da Borborema, que chegaram a se situar definitivamente, nas serras isoladas de Umã, Tacaratu, Ararobá e Garanhuns, em primeiro lugar, e, em seguida, com a perseguição a esses silvícolas e combate aos escravos pretos fugidos, residentes nos Palmares, disseminados e escondidos nas penedias e pelos desvãos das grotas, dentro das matas sombrias e das caatingas espinhentas, pelos bandeirantes paulistas e pelos senhores dos engenhos de Olinda e Porto Calvo, que o povoamento daquela região planaltina se originou, abrangendo uma área aproximadamente, de 36 mil quilômetros quadrados.

Afirmou Ernesto Enes, citando um documento encontrado no Arquivo Ultramarino de Lisboa, do qual é Diretor, que a Capitania do Ararobá "cobria uma extensão de mil léguas quadradas, que constituem um paralelograma, o qual, começando na Serra da Haca, dos Campos de Unhanhu, corre dez léguas ao sudoeste e dela correndo (outras dez) ao nordeste, até topar no rio Ipojuca, que são os rumos paralelos da costa de Pernambuco, desde o rio São Francisco até o cabo de Santo Agostinho, com vinte  léguas de largura".

A serra de Ararobá, ao norte do Estado de Pernambuco, compreendia as serras de Ararobá propriamente dita, a do Cachorro, a do Gavião e a de Jacarará, aonde nesta última, na lagoa do Angu, nasce o rio Capibaribe.

Alfredo Leite Cavalcanti, no presente livro, afirma que "a região à margem direita do rio Canhoto, desde as suas cabeceiras até confrontar com  a serra dos Bois, está a cinco quilômetros a leste da cidade de São João, com uma extensão para o sul que varia de quinze a trinta quilômetros, e toda de vegetação baixa (tabuleiros) e todos os primitivos documentos que ela se referem a denominam de Campos dos Garanhu".

"Provavelmente, continua o Autor, "o nome Garanhu foi transmitido pelos índios habitantes da região aos seus descobridores, um dos quais foi Gabriel de Brito Cação".

"Este descobridor, quando passou a escritura de venda do seu quinhão de terra no sítio Buraco, em 6 de outubro de 1710, o fez com a declaração de que dentre os mais bens que tinha era uma sorte e quinhão de terras no sitio do Buraco nos garanhu o qual sítio do buraco lhe derão a ele e seus companheiros por descobrirem os garanhu".(Fonte da Pesquisa: Livro "História de Garanhuns", de Alfredo Leite Cavalcanti). 


GARANHUNS DORMIU MAIS TARDE E ACORDOU MAIS FELIZ


Do Blog Jornal Sináculo

Mais uma vez Garanhuns dormiu mais tarde e não foi pelas festas de São Pedro...Desta feita foi para esperar a apresentação de nossa rainha(cresceu e deixou de ser princesa), Andrea Amorim em um programa de muito crédito em uma conhecida emissora de TV.
A loiraça não decepcionou. Cantou, dançou, esbanjou charme e muito talento ao lado do fantástico Roberto Menescal, esse pescador de talentos que já a acompanha há algum tempo.
Foi mais um degrau que a cantora jornalista subiu e todos nós fomos juntos...
Garanhuns mais uma vez se curva diante de tanto talento...Aplaudiu.... Se emocionou, Se encantou... E dormiu mais feliz sob a luz da sua estrela maior: Andrea Amorim.

Friday, June 28, 2013

HISTÓRIA DE GARANHUNS: A COLONIZAÇÃO

Índios tendo suas terras invadidas
A história de Garanhuns remonta à primeira metade do século XVII, com o estabelecimento no planalto da tribo      de
índios Cariris, denominada Unhauhu, de corrutela Garanhu, donde o primitivo nome da terra de Campos dos Ganhun, gravado nos mais antigos documentos, descobertos pelo Dr. Ernesto Enes, no Arquivo Ultramarino de Lisboa, e pelo autor Alfredo Leite Cavalcanti, nos arquivos dos cartórios garanhuenses.

Essa história é contemporânea da guerra holandesa e começo das guerrilhas dos escravos pretos, fugidos para os "quilombos" dos Palmares.

Sucedeu um século à História do desbravamento dos sertões do rio São Francisco, pelos vaqueiros do Nordeste e pelos soldados da Milícia, nos pródromos da fundação da Capitania de Pernambuco, em 1534, e expulsão dos índios Caetés, de sua primitiva aldeia "Marin", e consequente internamento desses silvícolas pelas ribeiras do grande rio mediterrâneo brasileiro.

Pereira da Costa relatou nos Anais Pernambucanos "que o rio São Francisco, que constitui o limite sul das terras de Pernambuco, doadas a Duarte Coelho, em 25 de setembro de 1534, e de todo lhe pertencendo, bem como todas as suas ilhas, segundo os diplomas régios de doação e o foral da Capitania, quando sua posse, o donatário fez algumas tentativas de exploração do seu vale interior".

Essas tentativas, de certo modo, surtiram efeito para o povoamento do baixo São Francisco, mediante o estabelecimento de alguns currais de criação e de algumas vilas.

No meado do século XVI, o monarca D. João III, interessando-se pelo desenvolvimento do sertão do Nordeste, ordenou no Regimento entregue ao Governador Geral D. Tomé de Souza, em 17 de dezembro de 1548, que, "sendo de muita conveniência descobrirem-se as terras sertanejas, para esse cometimento, logo que chegasse ao Brasil, enviasse alguns bergantins com soldados da Milícia, pelo rio São Francisco acima, com línguas e práticos, fincando marcos e tomando posse das terras descobertas".

Sucedendo a D. Duarte Coelho, na Donataria de Pernambuco, seu filho Duarte Albuquerque Coelho o primogênito ainda no Reino, tratou logo desta conquista e, regressando à sua Capitania, uniu-se ao seu irmão, Jorge de Albuquerque Coelho, empreendendo no ano de 1560 uma grande expedição ao rio São Francisco.

"Nesta jornada", disse Pereira da Costa, "restaurou algumas pequenas povoações situadas à sua margem, em cujo número fique a do Penedo e, consequentemente, com uma campanha de conquista dos silvícolas se consumiram cinco longos anos, em cujas lutas percorreu o exército pernambucano as planícies, as montanhas e os desertos daquela zona sertaneja, desde os seus limites ao sul pelo mesmo rio, até o extremo norte, exterminando a grande maioria das populações indígenas que habitavam o vale".

Foi somente no ano de 1573, que o feudatário da Casa da Torre, Garcia d'Ávila, chegou a Sergipe, na margem direita do rio São Francisco, onde chantou marco de fundamento de sua Capitania.

Quando Cristovão de Barros tomou posse do governo da Bahia, em 1590, empreendeu e conseguiu a conquista das terras de Sergipe, obtendo pelas vantagens da escravidão, a que foram submetidos os índios Caetés vencidos, poderoso incentivo para a vitoriosa empresa de que, efetivamente, disse Pereira da Costa, resultou avultado concurso de gente de Pernambuco e da Bahia.

Não podendo os selvagens resistir ao embate de um considerável exército, dispondo de grossa artilharia e de numerosas forças de infantaria e cavalaria, além de quase três mil índios frecheiros aliados, viram eles, inopinadamente, invadidas e taladas as suas terras, destruídas as suas aldeias e lavouras e, por fim, depois de uma defesa heróica em combates e assédios, saem vencidos, custando-lhes a terrível campanha cerca de três mil mortos e caindo prisioneiros e escravos quatro mil, que foram divididos pelos expedicionários, como vantagens da guerra".

Através, portanto, dessa inglória campanha de extermínio dos silvícolas e mediante a instalação dos currais de gado e penetração dos rebanhos, tangidos pelos valentes vaqueiros do Nordeste, é que se processou realmente o desbravamento daquela região ignota e feraz, consolidando-se a posse indiscutível dos vastos latifúndios devolutos, em face do direito adquirido pelo "uti possidets".

Esse foi o processo primário empregado pelos colonizadores para a conquista das terras sertanejas, mediante a outorga de sesmarias pelo Reino.

"A criação do gado", disse o Prof. Osório de Souza Reis, que foi a causa primordial da expansão geográfica do Brasil oriental, desenvolveu-se, a princípio, nas imediações da cidade do Salvador e, pouco a pouco, foi se estendendo a Sergipe, a Pernambuco e para o interior, ao longo do rio São Francisco. À medida que a criação se afastava do litoral, iam-se abrindo caminhos e fundando povoados, em torno de fazendas dos vaqueiros. Vida aspérrima, embora dura que a dos bandeirantes, passaram esses primeiros ocupadores do sertão".

"Não eram os donos das sesmarias", escreveu Capistrano de Abreu, "mas, escravos ou prepostos. Carne e leite havia em abundância, mas isto apenas. A farinha, único alimento em que o povo tem confiança, faltou-lhes a princípio, por julgarem a terra imprópria ao cultivo da mandioca, não por defeito do solo, mas pela falta de chuva, durante a maior parte do ano. O milho, a não ser verde, afugentava pelo penoso preparo naqueles distritos estranhos ao uso do monjolo. As frutas mais silvestres, as qualidades de mel menos saborosas, eram devoradas com avidez. Podem-se apanhar muitos fatos da vida daqueles sertanejos, dizendo que atravessaram a época do couro. De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro. De couro, todas as cordas, a borracha para carregar água, o mocó ou alforge para levar comida, a mala  para guardar roupas, a mochila para milhar cavalo, as peias para prendê-lo em viagem, as bainhas de facas, as bruacas e os surrões, a roupa de entrar no mato, os banguês para curtume, ou para apurar o sal; para  os açudes, o material de aterro era levado em couros puxados por juntas de bois, que calcavam a terra com o seu peso; em couro pisava-se tabaco para o nariz".

Quando Cristovão de Barros, no ano de 1590, iniciou a conquista daquela terra, as boiadas tangidas do sul já haviam ultrapassado o rio Itapecuru.

De 1590 a 1600, as campinas entre o rio Real e o São Francisco povoaram-se de tão numeroso concurso de pastores que, segundo Frei Vicente do Salvador, "desde  o ano de 1627, dali se provêem de bois os engenhos da Bahia e de Pernambuco, e os "açougues de carnes".

"O rio São Francisco", disse Pedro Calmon, "foi um polarizador. Nenhum outro rio do Brasil teve uma função histórica tão constante. A sua importância, como condensador de povos, pertence à Arqueologia da América".

"Gabriel Soares dá notícia da localização de populações naquele vale fértil, cimitarra de terras agrícolas, cortando o desolado sertão. Quase todas as raças indígenas do Brasil, excetuando-se apenas os Aruaques, ali se estabeleceram. Assim, os Gês, os Tupis, os Cariris e mesmo os Caribes perlustraram aquelas regiões ferazes. Cada uma dessas famílias, rivalizando com as vizinhas, conquistou, em tempos pré-colombianos, o seu direito de beber e pescar no rio providencial, espécie de torrente milagrosa, que ficava para além da caatinga inabitável, estrada móvel, enriquecendo com as cheias periódicas, como o Nilo, um solo salitroso e fecundo".

"De Pernambuco e da Bahia, os criadores seguiam, lenta mas seguramente, o rumo do São Francisco. Depois acompanhavam-lhes as margens. Embarcados, os primeiros chegaram à barra do rio Grande, subiram até o Carinhanha, remontaram às terras centrais que foram, mais tarde, as Minas Gerais. Nem para alcançar o São Francisco os nordestinos precisavam armar as suas bandeiras; o próprio deslocamento dos rebanhos e a necessidade de pastos, que tornavam as fazendas imensas, alargaram o âmbito do gado até o vale maravilhoso. Deveras, o São Francisco atraiu os rebanhos de Pernambuco, cujos engenhos passaram a dispor apenas dos bois necessários ao manejo dos trapiches, tanto que lá se abasteciam das boiadas inumeráveis, ao tempo dos holandeses".

"A Casa da Torre retomou, em 1627, os trabalhos do seu fundador Garcia d'Ávila e achou a comunicação com o São Francisco por Jacobina. Recolhera ela a experiência de Belchior Dias Moreira, que subira ou acompanhara  o São Francisco, entre a barra do rio Salitre e o Parnamirim, de lá trazendo histórias de minas de prata, que justificariam, por cento e  cinquenta anos, expedições, pesquisas, caças de índios. O gado irrompeu com os sertanistas. As estradas de boiadas foram os caminhos definitivos. Pelos mesmos transitou o exército português, nas guerras com o flamengo invasor de Pernambuco e por eles rolou o povoamento, semeando aldeias e vilas por todo o nordeste".

"A Casa da Torre", disse o Prof. Joaquim Silva, "foi, em meados do século XVII, um dos maiores centros de expansão pastoril para o Nordeste. Dessas terras foi que partiram para as suas grandes empresas os sertanistas Domingos Afonso Sertão, Domingos Jorge Velho e Matias Cardoso de Almeida".

Desde modo, começou o povoamento de Pernambuco, através da penetração do rio São Francisco, com o estabelecimento dos currais de gado e fazendas de criação, no vasto interior do Estado, subindo os vaqueiros os afluentes da margem esquerda e, uma vez descobertas as suas nascentes, transpuseram os seus divisores de água e alcançaram os cursos dos rios da bacia do Atlântico, pelos quais desceram.(Fonte da Pesquisa: Livro "História de Garanhuns", de Alfredo Leite Cavalcanti).

Wednesday, June 26, 2013

UM ESCRITOR QUE ORGULHA GARANHUNS

Do Blog do Roberto Almeida



"Dias de Febre na Cabeça", do escritor garanhuense Nivaldo Tenório, é antes de qualquer coisa boa literatura. É um livro para ler e reler, tanto pelo texto apurado, com estilo, quanto pelas possibilidades de compreensão ou entendimento oferecidas em cada história.

Neste seu novo livro, Nivaldo é já o escritor maduro, que sabe onde quer chegar. Na literatura nacional, segue a vertente de Machado de Assis e Osman Lins, tanto no modo de escrever, mais cerebral, quanto nas preocupações como autor. O foco do garanhuense é a psicologia dos personagens, é a "miséria humana"; sem concessões, apelos comerciais ou romantismos de qualquer espécie.

Os contos de Nivaldo Tenório têm uma atmosfera sombria, lembram Kafka, sobretudo o da obra prima "A Metamorfose".

O escritor não situa lugares, datas; não se preocupa com os rostos, com a superfície. Seu objeto é a alma e talvez o sofrimento humano.

Homens de meia idade ou idosos são os personagens principais do livro. Dilacerados por dúvidas, erros, incertezas, doenças, lembranças ou perspectivas de morte.

Mesmo lidando com temas tão áridos, o autor construiu um livro belo, tocante, enriquecedor.

É pena que tão pouca gente lê nesses Brasis.

Mesmo em Garanhuns, acredito, muitos se privarão do prazer estético da literatura de Nivaldo Tenório.

Dias de Febre na Cabeça tem uma unidade impressionante, mas ousaria destacar nos 14 contos do livro  as narrativas Bizarro Caleidoscópio, Labirintite, Pulgas e a história que dá título ao volume.

Nivaldo por certo não foi elogiado à toa por escritores e jornalistas da capital. Ele é motivo de orgulho para nós, garanhuenses de nascença ou de coração.

Wednesday, June 19, 2013

ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS PIONEIROS DA CIDADE DE GARANHUNS

Foto da década de 30: Sanatório Dr. Tavares Correia   instalado em
Garanhuns em  18 de  maio de 1929. Hoje Hotel Tavares Correia.

  • Ferreira Costa, desde 1884;
  • Sapato's, de início era a  Sapataria Moderna , onde hoje é Iza Calçados. Como Sapataria Moderna, desde o início do Século XX, entre 1900 a 1905.
  • Posto de Saúde São Sebastião (Farmácia São Sebastião, bairro Boa Vista), a primeira estabelecida em Garanhuns entre o final do Século XIX e o início do Século XX, segundo seus proprietários;
  • Livraria e gráfica escolar Manoel V. Gouveia Ltda, atual Gráfica Escolar, desde 02/09/1924;
  • Hotel Tavares Correia (onde antes era o sanatório), desde 1929;
  • Armazém Avenida, desde a década de 30;
  • Banca a Sorte, desde 1938;
  • Foto Veneza, desde 1940;
  • Empresa Auto Viação Progresso, hoje dividida em Progresso e Jotude. Década de 1940;
  • Foto Guacyra, desde 1948;
  • O barbeiro mais antigo de Garanhuns, s Sr. Alcides Pereira da Silva, desde 1952;
  • Casa Omega, desde 1954;
  • Casa São Jorge, desde 1954;
  • Comercial Ramos Bezerra, desde 1958;
  • Magazine Pérola (antes Pérola Jóias), desde 1970.(Fonte:Livro "Garanhuns em Versos" de Gonzaga de Garanhuns).

Tuesday, June 18, 2013

PADRES QUE PASSARAM PELA PARÓQUIA DE SÃO SEBASTIÃO


Padre Francisco de Luna
Pe. Francisco de Luna
Pe. José de Anchieta Callou
Pe. Rodolpho Martins Moreira
Pe. Leão Kuipers, SCJ
Pe. Ignácio Bloensat, SCJ
Pe. Henrique Van Iersel, SCJ
Pe. Leonard Wytemberg, SCJ
Pe. Miguel Reese, SCJ
Pe. Cornélio Wolke, SCJ
Pe. José Cobben, SCJ
Pe. Matias Lemmens, SCJ
Pe. João Briggeman, SCJ
Pe Bonifácio Hermelinck, SCJ
Pe. Egidio Van Well, SCJ
Pe. José Tavares do Carmo, SCJ
Pe. João Vandebeeck, SCJ
Pe. Felipe Werter, SCJ
Pe. Antonio Martinos Van Roy, SCJ
Pe. João Mauricio de Santana, SCJ
Pe. Carlos André Vieira Alexandre Paes
Pe. Marcelo Protazio Alves
Pe. Edson Alves Viana
Pe. José Émerson Alves da Silva (Atual).

Durante o período de (14/08/1925 a 11/11/1995) a Paróquia foi administrada pelos padres da Ordem do Sagrado Coração de Jesus (SCJ), dos quais vários administraram a Paróquia por mais de uma vez. (Fonte da pesquisa: Jornal  "A BOA NOTÍCIA").

GRUPO GAIAMÁLGAMA RECEBERÁ, "TROFÉU MAURO SOUZA LIMA" NO PRÓXIMO MÊS NA CIDADE DE GARANHUNS

Do Blog Jornal Sináculo

FIG2013 Selecionados na convocatória do Fig 2013 são divulgados
           O Grupo garanhuense “Gaiamálgama” receberá, no próximo mês o troféu "Mauro Souza Lima" que é destinado às pessoas ou Entidades que fazem uma diferença nas artes, na cultura, na educação e no desenvolvimento da cidade. O prêmio, concedido pela colunista Selma Mello, através dos Jornal e Blog Sináculo,  é uma homenagem e reconhecimento ao grande poeta, jornalista, escritor, colecionador, empresário, domador, ex-vereador entre outras atividades executadas pelo polivalente Mauro Lima que sendo homenageado em vida, deixa o prêmio ainda mais competitivo e emocionante. Este ano a edição do Prêmio será realizada na CDL no dia 04 às 19 horas e terá as apresentações especiais do maior saxonista da região, César Henrique, o extraordinário Ronaldo César e o Grupo acima citado.
     O nome “Gaiamálgama” tem como base em sua composição a palavra “Gaia”, mitologicamente, significa Terra-Mãe Presente na mitologia Grega, e fundida com a palavra "amálgama" que significa a mistura de elementos diferentes que formam um único elemento. Gaiamálgama é um grupo que se caracteriza pela multiplicidade de linguagens, que as utiliza para tecer sua música. Recolhendo em canções tradicionais de vários lugares do mundo, as influências necessárias para fundir a cultura do mundo em um trabalho singular. Ou seja, essa pesquisa é a inspiração, através das mitologias, crenças, ritos dos povos, para uma elaboração única que se reflete nas composições próprias do grupo.
         Das canções pesquisadas, as de cunho folclórico e espiritualista , são as que têm maior proximidade com a proposta de música. As letras estão em diversas línguas e dialetos dos diversos países, tendo também, composições próprias do grupo, em uma linguagem universalista, que utiliza o alfabeto ocidental, em especial, as línguas latinas, chamada de ‘Edrâmico’                Compõem o grupo seis instrumentistas e cinco performáticos integrantes, que cantam, dançam e interpretam. As vestimentas remetem à Idade Média. Na apresentação, um dialeto, criado pela própria companhia, é usado para dar vida a canções tradicionais de outros países. Hungria, Índia e povos da região da Galícia são homenageados por Zhara Lins, Michele Noronha, Elnatã Souto, João Paulo Ferreira e Diorges Albuquerque.

Friday, June 14, 2013

INSTITUTO HISTÓRICO, GEOGRÁFICO E CULTURAL DE GARANHUNS




Futura sede do Instituto Garanhuns, localizada à Praça Dom Moura, 44 -  Casa onde residiu o  Dr. Souto Filho. Logomarca do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns, criada pelo Artista Plástico Espedito Dias.   O Instituto Garanhuns tem buscado parcerias no sentido de resgatar e preservar a história de Garanhuns, e muito em breve oferecerá aos pesquisadores e estudantes um espaço de estudo e divulgação de conhecimentos.

OBJETIVOS E FINALIDADES DO INSTITUTO HISTÓRICO, GEOGRÁFICO E CULTURAL DE GARANHUNS:

I - O estudo e guarda da história, arqueologia, geografia e cultura do Brasil, de Pernambuco e especialmente de Garanhuns;

II - Reunir, conservar e divulgar,documentos, livros, revistas, jornais, O objetos de interesse para a história, geografia e cultura do município, constituindo estes, seus arquivos, biblioteca e museu;

III - Manter intercâmbio com entidades congêneres, universidades, pesquisadores, entes públicos e privados, do Brasil e de outros países, visando à difusão cultural;

IV - Celebrar convênios, pareceres e contratos, bi e multilaterais, com entidades públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, em prol de seus objetivos, podendo prestar serviços de consultoria, pesquisa, projetos e atividades afins;

V - Promover cursos, oficinas, exposições, seminários e outros eventos que contribuam para o desenvolvimento da cultura;

VI - Divulgar, através dos meios gráficos, audiovisuais e eletrônicos, estudos sobre história, arqueologia, cultura e geografia de Garanhuns e de Pernambuco, bem como a divulgação de livros, artigos ou outras produções científicas de seus sócios, através dos meios próprios ou quaisquer meios de mídia e de tecnologia da informação;

VII - Promover e contribuir para o ensino da história, geografia e cultura de Garanhuns; bem como da pesquisa genealógica;

VIII - Promover os princípios da pluralidade e diversidade cultural;

IX - A discussão de temas referentes à Garanhuns, que no âmbito das ciências sociais e humanas possam contribuir para seu pleno desenvolvimento.

Diretoria:

Presidente: Cláudio Gonçalves de Lima (professor e escritor)
Vice-presidente: Audálio Ramos Machado Filho (pesquisador)
Secretária-geral: Ivanice Ramos
Diretor Fiscal: Anchieta Gueiros de Barros (pesquisador)
Diretor de Cultura: Prof. Antônio Vilela ( professor e historiador)
Diretor de Comunicação: Ronaldo Cesar Carvalho (cantor e compositor)
Conselho Fiscal: Igor Cardoso, João Marques (escritor, presidente da Academia de Letras) e Edmilson Vieira (artista plástico)

Wednesday, June 12, 2013

GERALDO DE FREITAS CALADO: UM SEMEADOR DE SONHOS

Geraldo de Freitas Calado

Fernando Jorge

Garanhuns, a 229 km do Recife, não foi o torrão natal de Geraldo de Freitas calado, mas a cidade do presidente Lula, do escritor Luís Jardim e do sanfoneiro Dominguinhos, que viu crescer e se desenvolver um homem que nunca desistiu de sonhar de olhos abertos, apesar dos moinhos de vento; um homem que fez da sua existência uma lição permanente de amor às coisas belas da vida e de defesa de causas nobres no sentido de amparar os injustiçados.

Nascido na verdade em Correntes, cidade do Agreste Meridional pernambucano que faz limite ao norte com  Garanhuns, em 5 de dezembro de 1933, filho de José Zacarias de Freitas e de Eulália de Freitas Calado, Geraldo aplicou na prática o lema que sempre repetiu como estribilho: "Jamais lançamos, como César, a sorte. Lançamos, sim, a luta.

"Educador, professor universitário, jornalista, político, orador, conferencista, jurista, autor de acatados livros jurídicos de doutrina, procurador federal, enfim, um homem poliédrico, um visionário que pensa em tempo integral nos destinos nacionais. Seu espírito associativo e documentado pela passagem e pela militância febril em dezenas de entidades das vidas política, cultural e artística do país. Todos que puderam acompanhar de perto suas atividades na linha de frente do Grêmio Cultural Ruber van der Linden, do Grêmio Cultural Castro Alves e do Movimento Municipalista Brasileiro, para ficar em apenas três exemplos, guardam de Geraldo de Freitas Calado as melhores recordações. Até hoje é lembrada sua monumental atuação conduzindo a Casa do Estudante Pobre de Garanhuns, a "menina dos olhos" de toda uma existência. Geraldo acompanhou de perto episódios decisivos da política nacional.

Sua vida foi toda ela argamassada de lutas ingentes, nem sempre timbradas pelo êxito e recompensadas com o reconhecimento geral. Mas jamais desfaleceu na sua fé no futuro do país. Com seu espírito gregário, Geraldo deu o melhor de si em cada campanha altruística, em cada cruzada em prol dos que trabalham para o progresso da nossa pátria amada. Exemplo disso é seu apostolado, seu catecismo incansável em torno da idéia da fundação da Universidade Federal do Agreste Meridional de Pernambuco, em Garanhuns, o sonho que animou o seu espírito por mais de 50 anos.

Verdadeiras encruzilhadas da história. Conviveu estreitamente com líderes que suscitam até certa nostalgia de décadas passadas em que os políticos tinham mais conteúdo e mais espírito público. Mas mesmo nesses "contatos cívicos", Geraldo nunca deixava de ser um embaixador do seu amado Pernambuco no cenário federal. De certa maneira, estava longe do poder, mas pertinho das decisões.

Estudou as primeiras letras no Colégio Diocesano de Garanhuns. Em 1964, colou grau em Direito na tradicionalíssima Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco (ao lado da Faculdade de Direito de São Paulo, é o primeiro curso superior do Brasil, fundado por lei promulgada pelo imperador D. Pedro I, em 11 de agosto de 1827, e instalado primeiramente em Olinda no Recife).

Completou a formação acadêmica de Geraldo a realização de estudos de pós-graduação em Direito Civil, Direito Judiciário Civil, Direito Penal,Direito Judiciário Penal, Direito Comercial, Direito Constitucional e Direito Administrativo, todos pelas Faculdades Integradas Estácio de Sá, na Guanabara.

Em São Paulo, Geraldo lecionou no curso pré-vestibular "João Kople", onde destacou-se como um dos mestres mais queridos daquela escola. Nesse período, foi bastante expressivo o número da alunos do "João Kople" aprovados nos mais concorridos vestibulares.
Jovem idealista, buliçoso e ousado que era, Geraldo distinguiu-se como um dos mais combativos e tenazes líderes estudantis de sua geração. Quando presidente da União Estudantil de Garanhuns, fundou, ao lado de seus companheiros de lutas, a Casa do Estudante Pobre de Garanhuns (CEPG), cuja Pedra Fundamental foi lacrada pelo então prefeito da cidade, Celso Galvão. A partir daí, deu-se início às obras da Casa.

A CEPG tem por meta-síntese o velho sonho acalentado pelo primeiro presidente, Geraldo de Freitas Calado: a Garanhuns universitária, a Universidade Federal do Agreste Meridional de Pernambuco. A Casa do Estudante, que Geraldo ainda queria ver reconhecida pela União patrimônio histórico da humanidade, destina-se a ser o lar, o teto dos alunos da futura universidade.

Como justo reconhecimento pela sua gestão à frente da CEPG, Geraldo de Freitas Calado foi homenageado em solenidade na Câmara  Municipal de Garanhuns com um belíssimo Livro de Ouro, assinado por 985 estudantes garanhunenses, representados por uma comissão liderada por Rômulo Lins.

Era a consagração de um homem público que Plutarco, se vivo fosse,  certamente ficaria tentado a biografá-lo. Senão, vejamos: acaso não foi Geraldo o artíficie da consecução do terreno de 1034 metros quadrados onde se situa a Casa do Estudante? O edifício da Casa foi construído de modo que pudesse se elevar até a altura correspondente ao quinto andar e  dotado de dormitórios, refeitório, cozinha, almoxarifado e gabinete de leitura.

Geraldo transmitiu a presidência da Casa ao seu sucessor eleito, o padre e professor Edelzino de Araújo Pitiá, deixando as finanças da instituição acusando um superávit de CR$ 4.248,50.

Mas recuemos no tempo: em 3 de março de 1945, durante a ditadura do Estado Novo, foi realizado histórico comício pró-redemocratização na sacada da sede do "Diario de Pernambuco", no Recife. A manifestação reuniu líderes políticos oposicionistas de grande nomeada. Durante indignado discurso de Gilberto Freyre, o consagrado mestre das ciências sociais no Brasil, a polícia política dissolveu o comício a tiros. No incidente foi assassinado com um tiro na testa o estudante de Direito Demócrito de Souza Filho, de 24 anos.

Tal atrocidade tocou profundamente Geraldo, que,em Garanhuns, comandava o Movimento em Prol do Estado de Direito Democrático, apesar da sua tenra idade (movimento por ele fundado na Rua Santos Dumont nº 210). O menino de 12 anos não saía da frente do rádio, sintonizado nas estações do Rio de Janeiro (rádios Tupi, Tamoio e Mayrinque Veiga), durante as transmissões dos comícios. Tratou, então, de propagar, por toda a cidade, as mensagens em favor da liberdade de cada pronunciamento do apoteótico comício de 3 de março. Nessa época, Geraldo morava numa pensão ("de pessoas ilustres e conservadoras", recorda ele). Ainda assim,  defendia,  a normalidade democrática e o fim do nefado Estado Novo. Logo conhecido como o "Demócrito do Interior", Geraldo seguia os passos dos líderes da oposição em Garanhuns, como Francisco Figueira (mais tarde prefeito), e em Correntes, com Hercílio Victor, da União Democrática Nacional (UDN). Saía, lata de tinta e pincel à mão, à frente de outros garotos, escrevendo nos muros dos terrenos baldios as palavras de ordem contra a ditadura. Manoel Hélio Monteiro, da Academia de Letras de Garanhuns, lembra do estudante primário de 12 anos pregando a democracia: "Quantas e quantas vezes não o surpreendíamos, absorto, lendo em voz alta seus discursos, realçando, com apropriadas impostações de voz, aqueles trechos mais interessantes".

O traumático episódio do comício teve ser mártir (Demócrito) e foi decisivo para precipitar a restauração democrática do país. Gilberto Freyre diria depois, no artigo "Quiseram Matar o Dia Seguinte", do "Diário de Pernambuco" de 10 de abril de 1945: "Não há exagero nenhum em dizer-se que a 3 de março de 1945 a marcha dos estudantes da Faculdade de Direito ao Diário, de certa altura em diante, tornou-se para os mesmos estudantes quase uma nova marcha dos 18 de copacabana. Em vez de 18, 180. Demócrito foi a morte que teve: a de herói de Copacabana".

O lacre da pedra Fundamental da Casa do Estudante Pobre
de Garanhuns, aos sete de setembro de 1953, pelo Sr. 
Prefeito Dr. Celso Galvão, com a presença unânime dos
estudantes, patrioticamente desejosos de que ali, como
ação redentora, nascia a Casa do Estudante. Evento
concluído com discurso proferido por Geraldo de Freitas
Calado.
O ano de 1948 vai encontrar o jovem Geraldo de Freitas Calado à frente do Grêmio Cultural Ruber van der Linden. Engenheiro empreendedor, Ruber era um grande benfeitor da cidade e administrava a companhia de água e luz. O grêmio tratava-se de uma confraria literária que se reunia todos os domingos para discutir temas da nossa cultura. Geraldo debatia as  leituras que mais influenciavam com os colegas Erasmo Bernardino Vilela, Almir da Costa Campos, Rinaldo Souto Maior, José de Abreu, Osvaldo Zaidan, Mauro Lima, entre outros valorosos companheiros. Mourejou bastante até conseguir do Governo do Estado de Pernambuco (administração Agamenon Magalhães) uma sede para o Grêmio, na Rua Dantas Barreto, nº 188 (na mesma rua onde morava Geraldo e seus pais). As reformas no prédio cedido permitiram instalar ali a Sala das Sessões, a Sala de Expediente, além de uma biblioteca. Também foi conquista de Geraldo a consecução de verbas para as atividades do Grêmio Ruber van der Linden, junto ao então governador, Torres Galvão. Geraldo idealizou, ademais, a bandeira do grêmio, com a inscrição "Eloquentia et Sapientia"".

Nosso personagem passou às mãos do professor Erasmo B. Vilela a presidência dessa Casa de Cultura, com o caixa indicando um saldo positivo de Cr$ 6.600,59 e editando a publicação "O Grêmio", orgão oficial da entidade, com periodicidade mensal. Antes da presidência de Geraldo, iniciada no ano de 1952, o Grêmio se achava abandonado, praticamente desativado e funcionando num escritório da empresa de ônibus de João Tude de Melo,junto ao "Café Sandoval", na Avenida Santo Antônio.

Concomitante ao Grêmio Ruber van der Linden, a histórica missão para dotar Garanhuns de uma universidade não conheceu hiatos e tergiversações: o lançamento da Pedra Fundamental da Casa do Estudante Pobre de Garanhuns foi lançada em 7 de setembro de 1953, com a presença de inúmeras autoridades civis, militares e eclesiásticas. Nesse dia, todos os estudantes de garanhuenses, dos colégios Diocesano, Quinze de Novembro e Santa Sofia, uniformizados de branco, com o distintivo da União Estudantil de Garanhuns e acompanhados de banda de música, desfilaram pelas ruas da cidade até o terreno junto ao Parque Euclides Dourado, local cedido pela Prefeitura para abrigar a sede da CEPG. A "marcha branca", cujo passos cadenciados a ressoavam nos ouvidos de Geraldo, fez uma escala em frente à Prefeitura. Invadido pela emoção, o "Estudante-Presidente", como Geraldo era conhecido, discursou apaixonadamente na sacada da sede do Poder Executivo Municipal:"... em defesa permanente por novos setes de setembro, por muitos outros mais novos patriotas, pela consecução da  Universidade do Agreste Meridional de Pernambuco..." Geraldo pensava que o lugar ideal para a instalação das dependências da Universidade era o Hotel Monte Sinai, no bairro de Heliópolis. Graças a entendimento do então governador Etelvino Lins com o prefeito Celso Galvão, foi acertado a doação do hotel assim que o presidente Getúlio Vargas determinasse a instalação da Reitoria da Universidade.

O Inédito desfile de 7 de setembro de 1953 - Batizado pela Imprensa de "Marcha Branca", Patriótico evento
utilitário. Jamais acontecido em parte alguma do nosso Território Pátrio. Liderado pelo adolescente Geraldo
de Freitas Calado, Presidente da União Estudantil de Garanhuns - U.E.G. Em prol de novos 7 de setembro;
por muitos mais outros novos patriotas; pela consecução da Universidade Federal do Agreste Meridional
de Pernambuco, sediada em Garanhuns; e o lançamento da Pedra Fundamental da Casa do Estudante Pobre
de Garanhuns. "Geraldo de Freitas Calado".
Além de ser criador e seu grande dínamo, Geraldo foi o autor do Hino Oficial da CEPG, intitulado "Voz de Comando".

Uma Voz de Comando ecoou,
Da cidade, aos rincões mais distantes...
Garanhuns perfilou-se e marchou,
Ombro a ombro, com a grei d'estudantes.

É o porvir nossa esperança,
É o saber nosso fanal!...
Quem da luta não se cansa,
Sempre alcança o ideal.

Do estudante a casa se ergue...
Baluarte de Fé e de verdade,
De onde a jovem falange empreendeu
Marcha audaz pela Universidade.

Haveremos de ver realizados
Nossos sonhos e aspirações,
Pois são justos, humanos, sagrados,
De civismo são nobres lições.

O Brasil há de ouvir nossos brados,
E acolher-nos em seu coração,
Que também somos filhos amados
Desta rica e fecunda Nação.

Empunhando a bandeira de luta,
Não olhemos, sequer, para trás;
Sempre avante! Na nobre disputa
do saber, da justiça e de paz.

Nessa época. Geraldo de Freitas Calado não se deixava abater  pelas incompreensões. Uma delas vale ser recordada. Um delator denunciou os  diretores da União Estudantil de Garanhuns, U.E.G. ao Comando do IV Exército como "perigosos subversivos" e "verdadeiros agentes de Moscou". Somente viemos a identificar o delator, anos depois, em 20 de dezembro de 1955, precisamente 19 dias antes de nossa posse  como vereador do nosso município, através do honrado Major Mariano", conta a nossa reportagem.

Desde de 1953, o pai da Casa do Estudante de Garanhuns presidiu a UEG por quatro mandatos consecutivos, testado e aprovado em eleições democráticas. "Iniciamos o mandato consolidando aquelas nossas reivindicações pela consecução de abatimentos para a nossa classe junto aos consultórios médicos, dentários, hospitalares, livrarias, papelarias, lojas e casas de diversão", rememora Geraldo. Como presidente da UEG, conseguiu 160 bolsas de estudo a jovens carentes junto à União, ao Estado e ao Município.

Em 20 de outubro de 1956, em Assembléia Geral, presidida por Geraldo já vereador à Câmara Municipal de Garanhuns, a UEG aprovou os Estatutos da Casa do Estudante, cujo prédio estava em construção em meio aos eucaliptos do Parque Euclides Dourado. Com  a publicação dos Estatutos, em sua redação final, no Diário Oficial do Estado, esta instituição se emancipava da UEG e adquiria personalidade jurídica.

Em  15 de novembro de 1955, o eleitorado garanhuense conduziu o jovem líder estudantil de 21 anos a uma cadeira na Câmara Municipal. Foi eleito pelo Partido Democrata Cristão (PDC) numa campanha de uma pobreza franciscana. Mas rica de projetos que ansiava colocá-los no papel e na prática para minimizar o sofrimento da juventude necessitada.

Dando continuidade a sua pregação de missionário pela Garanhuns Universitária, Geraldo remeteu em 13 de setembro de 1953 ofício ao presidente Getúlio Vargas defendendo a causa que até hoje incendeia seu coração, junto as fotografias do lançamento da Pedra Fundamental da Casa do Estudante. O secretário do presidente, Lourival Fontes, enviou resposta ao presidente da União Estudantil de Garanhuns, informando que a correspondência de Geraldo foi encaminhada ao Ministério da Educação.
Geraldo continuou a se corresponder com o Governo Federal para saber da sorte da sua reivindicação. Mais de 50 anos passados, vemos que a ratio essendi de Geraldo (transmitida aos ministros do governo Vargas; do governo seguinte, de Café Filho, Cândido Motta Filho, do governo JK e João Goulart, sem falar dos governadores Etelvino Lins e Cordeiro de farias) continua atualíssima, a reclamar a melhor atenção dos atuais condutores dos destinos nacionais.

A fascinante abstinação de Geraldo de Freitas Calado seja pelas suas propostas no âmbito da educação, seja pelos seus pleitos em defesa da categoria dos procuradores federais, seja pela sua advocacia intransigente pela integração nacional, encheu de orgulho o poeta Lauro Cysneiros, de saudosa memória, que lhe dedicou as seguintes estrofes:

Alma jovem, repleta de ideais,
inda bem cedo, um sublime arcano 
o impeliu aos benéficos umbrais
do sagrado Colégio Diocesano.

Na cristalina fonte, argêntea e pura,
daquele educandário promissor
foi saciar sua sede de cultura,
do saber no santíssimo labor.

Trilhando a sua senda predileta,
atingiu, com seus dotes incomuns,
o primeiro degrau de sua meta:
"A União Estudantil de Garanhuns".

Alimentando sonhos aprazíveis,
representando um exemplo edificante,
venceu barreiras quase intransponíveis
e construiu a "Casa do Estudante".

Sempre lutando, denodadamente, 
promovendo o ideal a que se aferra,
pelo sufrágio e o amor de sua gente,
tornou-se vereador em sua terra.

Pelo amor que seu peito tanto encerra,
ao saber, à cultura e à humanidade,
quis dotar Garanhuns, a sua terra,
de um monumento, uma universidade.

Para lutar mais perto dos poderes,
sempre em defesa de ideais comuns,
foi cumprir, na Mauricéia, seus deveres
sem relegar ao olvido Garanhuns.

Matriculou-se, então, na Faculdade
e, com profundo e íntimo respeito,
busca a aprender, em prol da humanidade,
os sólidos fundamentos do Direito.

De jurista seguindo o seu destino,
foi exercer, com inteligência rara,
o mister do Direito, e um paladino
tornou-se na operosa Guanabara.

Eis, em traços ligeiros, sua estória,
exemplo vivo da melhor essência,
em que tremula a flama da  vitória
ante o esplendor da sua inteligência.

como vereador, "vereador dos estudantes", deixou como legado um sem-número de leis e iniciativas em favor de um melhor padrão de vida para os garanhuenses. Não resisto a anotar algumas delas: requerimento solicitando isenção das taxas de luz e de água da Casa do Estudante Pobre de Garanhuns, encaminhando à Secretaria Estadual de Viação e Obras Públicas; requerimento solicitando do Governo do Estado o pagamento de CR$ 28.025,00 referentes ao convênio firmado entre o Colégio Diocesano e a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, para custear as despesas com as matrículas de 25 alunos, requerimento solicitando ao diretor-superintendente da Rede Ferroviária do Nordeste a não-extinção do Carro  Pullman do serviço de transporte ferroviário da linha Recife-Garanhuns; requerimento, aprovado pela Câmara, para conceder aos estudantes desconto nas passagens dos ônibus urbanos; resolução considerando de utilidade pública o Círculo Operário de Garanhuns; lei concedendo CR$. 12.000,00 à  Cooperativa Escolar Artur B. Maia; lei que concedeu crédito especial de CR$ 1.840,20 do orçamento municipal, para custear a retirada da documentação relativa à transferência escolar de aluno vindo do Colégio Ateneu cachoeirense do Estado do espírito Santo para o Colégio Quinze de Novembro, de Garanhuns ( o que acarretou despesas com reembolso postal que o estudante em questão não podia pagar...); projeto de lei, aprovado e sancionado, instituindo a Fundação Municipal de Casas Populares para construir moradias e famílias de baixa renda e também para o funcionário público desabrigado ("Conseguimos transformar em lei projeto de tal porte social, provando que o mocambo não é uma forma digna de vida e, sim, o aniquilamento físico e moral das famílias operárias. Para tais famílias reivindicamos o direito que lhes é mais sagrado, o direito de viver sob a paz social, na qual haja respeito pela dignidade humana", comenta Geraldo); lei concedendo crédito de CR$ 60.000,00 para a conclusão das obras da Casa do Estudante Pobre de Garanhuns; requerimento concedendo abono de Natal para os servidores públicos do município; indicação autorizando a Prefeitura a construir com urgência o cemitério do bairro de Heliópolis, devido a seu elevado índice populacional e indicação para que  a Avenida Santo Antônio seja remodelada "com a excelência da beleza arquitetônico, da funcionalidade e de conforto";  lei que isenta de impostos por 10 anos as indústrias nacionais e estrangeiras que se instalassem na cidade. Também graças à iniciativa do vereador Geraldo de Freitas Calado, segundo secretário da Mesa Diretora da Câmara, forma incluídas no orçamento da cidade  verbas para a liberação de 80 bolsas de estudo para alunos reconhecidamente pobres. Além disso, foi um dos mentores intelectuais da criação da bandeira do município de Garanhuns, resultado de meticulosos estudos do professor João Dias, do Colégio Diocesano (que descobriu uma ave que sobrevoava os céus de Garanhuns chamado guará, que influenciou, junto com outras palavras de origem tupi, a etimologia do vocábulo "Garanhuns").

Nessa legislatura, presidia a Câmara Municipal o vereador Luiz Pereira Júnior, já falecido. O prefeito da cidade cujo clima de montanha lembra o de Campos d Jordão (SP) era Francisco Figueira, cujas virtudes de homem público e largueza de visão Geraldo de Freitas calado não se cansa de reconhecer. Governava o Estado o General Cordeiro de Farias.

Deve-se também a Geraldo de Freitas Calado a fundação e desenvolvimento do Grêmio Cultural Castro Alves, no ano de 1958, sediado num tradicional sobrado da Rua Aurora, próximo da  frequentada Sorveteria Gemba,  na Recife plasmada pelo arrojo de Nassau. Memoráveis encontros se realizaram nesse cenáculo, como uma conferência do legendário ator e teatrólogo Procópio Ferreira. Em mais um quadrante de sua vida, Geraldo mostrou-se um agitador cultural de boa cepa, vocacionado para as artes e para as ciências.

Geraldo de Freitas calado faleceu em maio de 2008, no Rio de Janeiro. Foi enterrado no Cemitério São João Batista. Exercia o cargo de Procurador Federal.
(Fonte da Pesquisa: Livro "Geraldo de Freitas Calado: Um Semeador de Sonhos", do Escritor Fernando Jorge - ano de 2007).