Wednesday, May 30, 2012

O Trem de Ferro


Lauro Cysneiros

Se do velho Trem de Ferro
Foi-nos privado o encanto,
Nada mais justo, portanto,
Que a explicação desse erro...

Tire a máquina do desterro,
Faça voltá-la ao seu canto...
Naquele morno acalento,
Torne a subir este serro...

Livre os túneis desse horror,
Desde a falta do vapor
Que a gente nunca esqueceu...

Volte o trem a este planalto
Restaurado pelo asfalto
Que tanta gente descreu.
(Foto: Antiga Estação Ferroviária de Garanhuns).

FREI DAMIÃO DE BOZZANO - O APÓSTOLO DO NORDESTE: PARTE 2

Tuesday, May 29, 2012

GARANHUNS: O PRIMEIRO CENTRO CAFEEIRO DE PERNAMBUCO


Alguns números da produção de café em Pernambuco segundo o Almanaque de Garanhuns de 1937.
Dos 53.122.900 cafeeiros(pés de café) existentes em Pernambuco, Garanhuns ocupava lugar de destaque.
Garanhuns possuía na época 2.361 cafeicultores com 2.444 propriedades.
Na época os centros mais importantes da lavoura do Café em Pernambuco:

Garanhuns: 14.077.000, pés de café
Bonito: 5.986.500, pés de café
São Vicente: 4.234.000, pés de café
Bom Conselho: 4.010.500, pés de café
Bezerros: 3.379.500, pés de café
Canhotinho: 2.593.500, pés de café
Belo Jardim: 2.231.000, pés de café
Caruaru: 2.161.000, pés de café
São Joaquim: 1.790.000, pés de café
Correntes: 1.680.000, pés de café
Queimadas: 1.560.800, pés de café
Angelim: 1.539.000, pés de café
Frei Caneca: 1.525.000, pés de café.
(Foto: Fazenda de Café da época)

X FESTIVAL CULTURAL DO QUILOMBO ESTIVAS EM GARANHUNS

LEI ORGÂNICA MUNICIPAL DE GARANHUNS


SEÇÃO II
DA CULTURA

Art. 135 - O Município tem o dever de garantir a todos a participação no processo social da cultura, em todas as suas formas.
§ 1º - Ficam sob a guarda do Município e sob sua gestão a documentação histórica do Município e as medidas para franquear sua consulta, bem como a proteção especial das obras, edifícios e locais de valor histórico ou artístico, os monumentos, paisagens naturais e jazidas arqueológicas.
§ 2º - O Município, com a colaboração do Estado, promoverá a instalação de espaços culturais com bibliotecas e áreas para a prática de atividades culturais diversificadas, na sede do Município e nos Distritos, sendo obrigatório a sua existência nos projetos habitacionais e de urbanização, segundo o módulo a ser determinado em lei.
§ 3º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos na forma da lei.
§ 4º - O Município erigirá em todos os edifícios e praças públicas com mais de mil metros quadrados, obra de arte, escultura, mural ou relevo escultório, de autor munícipe ou radicado no município há mais de dois anos, pernambuco, ou radicado no Estado há mais de dois anos, obedecida a ordem estabelecida neste parágrafo.
§ 5º - Será criado o arquivo Público Municipal, sob cuja guarda e gestão ficará, a documentação histórica e administrativa do município, e as medidas para franquear sua consulta.

Art. 136 - Para a concreta aplicação, aprofundamento e democratização dos direitos culturais consagrados na Constituição da República, o Poder Público Municipal, observará os preceitos fixados nos incisos I a XIII, do artigo 199, da Constituição Estadual.

Cultura


A cultura ao ser definida se refere à literatura, cinema, arte, entre outras, porém seu sentido é bem mais abrangente, pois cultura pode ser considerada como tudo que o homem, através da sua racionalidade, mais precisamente da inteligência, consegue executar. Dessa forma, todos os povos e sociedades possuem sua cultura por mais tradicional e arcaica que seja, pois todos os conhecimentos adquiridos são passados das gerações passadas para as futuras.

Os elementos culturais são: artes, ciências, costumes, sistemas, leis, religião, crenças, esportes, mitos, valores morais e éticos, comportamento, preferências, invenções e todas as maneiras de ser (sentir, pensar e agir).

A cultura é uma das principais características humanas, pois somente o homem tem a capacidade de desenvolver culturas, distinguindo-se, dessa forma, de outros seres como os vegetais e animais.

Apesar das evoluções pelas quais passa o mundo, a cultura tem a capacidade de permanecer quase intacta, e são passadas aos descendentes como uma memória coletiva, lembrando que a cultura é um elemento social, impossível de se desenvolver individualmente.

Monday, May 28, 2012

SERAPIÃO DEIXA A MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO RUMO AO RECIFE


Os sinos da Matriz de Santo Antônio foram companheiros emotivos de Serapião, durante doze anos. Com eles soube sentir a alma sertaneja, nas suas emoções, quando nas alvoradas festivas e dentro das nostalgias do cair da tarde. Ele os sabia bimbalhar. Nas plenitudes de maio, ele os tocava com poesia e com sentimento.

Nas cidades do interior, gozava antigamente o Sacristão de muita consideração. Era um dos elementos selecionados na localidade. Tomava parte em todas as festas cívicas, era o organizador dos festejos da Matriz e chamado para as manifestações políticas no município, e para as festinhas familiares. Depois do Prefeito, era ele o homem que mais afilhados tinha; depois do Vigário, o que mais presentes recebia dos matutos, em dias de feira: muita galinha gorda, cabritos e bacorinhos; ovos fresquinhos e queijos de coalho e de mochila. Na terra de Serapião ficaram ma lembrança do povo os auxiliares do Padre Pires e do Monsenhor Pequeno: Cantalice, Ormindo, farmacêutico, depois médico; Zé Leal, agente do correio e o Sinhô, fazendeiro e bom tocador de violão, da família Tenório. Para substituir Serapião foi nomeado um professor de música, autor de peças sacras, com boa voz e conhecimento de vários idiomas, que veio lá das bandas de São Bento do Una para construir sua casa na Boa Vista.

Estava criado o Bispado e nova organização já era dada à paróquia, com a criação de novas freguesias dentro da própria sede. A velha Matriz elevada à categoria de Catedral, acrescido o número de sacerdotes e se desdobravam os serviços religiosos. Começavam as incardinações e excardinações. O sacristão já não podia dar conta dos trabalhos, zelar pela ornamentação e limpeza da Catedral; nem tinha tempo suficiente para preparação dos atos religiosos e das festividades, com a responsabilidade da escrituração do movimento paroquial: Os proclamas, que chamavam de banhos, certidões, assentamentos de batizados, avisos, etc. E como poderia cuidar do jardim, por ele feito entre a Matriz e o Santa Sofia?

Naquela faixa de terra estreita, porém perfumada, efloresceram os primeiros suspiros do seu coração ainda adolescente; viu brotarem os lírios das almas cândidas das meninas moças de sua cidade; e, nas primaveras sertanejas, elas desfolharem as calêndulas para a certeza do seu bem-me-quer. Ali sentia o jovem sacristão, na sua simplicidade, os eflúvios da sua formação de matuto pernambucano, que ama a terra em que nasceu, que admira a natureza rica e bela que lhe serviu de berço. Sabia que ninguém mais cuidaria com tanto amor daquele jardim. Com tristeza, veria depois fenecerem as violetas e os amores-perfeitos, os cravos e mal-me-queres, dálias e crisântemos daquele cantinho que era toda a sua vida, naquela adolescência humilde. A tabela para os serviços religiosos era muito baixa: um batizado estava sujeito ao pagamento da espórtula de três mil réis e um casamento dez mil reis, incluindo-se os proclamas. E só pagava quem podia. Serapião já não teria auxiliares, porque só ficava com uma quinta parte do que arrecadava, para todos. Padre não podia pegar em dinheiro. Quando o sacristão recebia descontava a sua quinta parte e o restante entregava a uma pessoa da família do Vigário. A fábrica da paróquia estava sobrecarregada.

Em fins de julho, em surdina, começou Serapião agir para deixar a sacristia, com muito pesar. Deixava também a paróquia o Padre Manoel, seu grande amigo, até então Vigário, desde a Hecatombe de 1917. Dele sentiram grandes saudades sacristão e coroinhas. Era o destino implacável do nordestino. A profecia do seu pai, quando ele nascera: Este menino vai andar muito. O destino já lhe apontava um caminho a seguir: a família do Padre Manoel chamou-o para Recife. Aprontou o seu cafiote. E começaram os dias de pranto e de prematuras saudades; horas de incertezas e de esperanças, marcando a sua próxima partida. Começaram as despedidas dos velhos companheiros de infância e adolescência. Nas horas de folga, com lágrimas nos olhos, ia rever, um a um, os recantos românticos e belos da sua terra: O Pau Pombo, a Vila Regina, o Brejo das Flores, o açude em frente à Cadeia Pública; a grota d'agua, o alto do Magano, o Monte Sinai; a Boa Vista dos Leites, a Ponta da Areia, das rendeiras, o Cinema Chicó; o Ginásio e o Santa Sofia, onde "Ma-Mére" lhe ofereceu uma imagem de N. S. do Perpétuo Socorro, que guardou consigo, com carinho e devoção. Visitou todos os lugares da sua infância, demoradamente.

Naquela última primavera na terra natal, Serapião, com olhar enternecido, admirava o seu jardim, ao lado da Matriz. As filhas de Maria e as moças do côro, antes de colherem flores para os altares da Virgem e de Santo Antônio, o santo casamenteiro. Era ingênuo também o sacristão. Na véspera de deixar o cargo, estava ele alta madrugada na matriz, meditabundo, como que vencido por um grande desalento. Abriu todos os armários e gavetas das velhas cômodas existentes na sacristia, para reavivar os seus conhecimentos da liturgia da missa. Naqueles instantes mórbidos para a sua alma de matuto religioso, o sacristão demissionário meditava até sobre as cores dos paramentos: branco era o símbolo de luz, alegria, pureza; verde, marcava esperança à Côrte Celeste; encarnado, simbolizava o sangue e fogo, só usado nas missas do Espírito Santo e dos Mártires; roxo, significando penitência; rosa, alegria e o preto era símbolo do luto. Mais conformado, subiu ao côro, pela última vez, para agitar os seus amigos, os sinos da Matriz, como um adeus aos companheiros cotidianos. Ao descer uma zeladora que o vinha observando disse-lhe: Muito sofre quem é sensível! Uma lágrima caíra dos olhos do emotivo sacristão.

Em uma segunda-feira, pela manhã, chorando em um velho vagão da Great Western, com destino à cidade do Recife, embarcava Serapião Cavalcanti Albuquerque, como. Era mais um sertanejo que deixava a sua terra. As suas tias, todas três, os seus pais, irmãos e amigos, foram levar as suas despedidas. A dor imensa que lhe ia na alma naquele momento, ainda vive funda na sua lembrança, mas não a sabe descrever. Lembra-se que ao ver o telengo-tengo se movimentar, dirigiu-se às suas tias, entre lágrimas, e disse: Virei buscá-las! E o calendário marcava quatorze de setembro de 1920; e no omega de Artur Condutor: oito horas. O comboio já se afastava da cidade tão amada, ao longo da estrada onde passeara, nas manhãs frescas da sua infância com a sua Dinha querida.


As recordações começavam povoar a sua memória e via se afastarem: a Catedral, o Casario Branco, o campo de futebol, o cemitério, as serras verdes, um mundo de coisas que seriam motivos para as mais cruciantes saudades e indeléveis recordações. Mas enchia-se a sua mente com as festinhas tradicionais de Freixeiras, São João, Santo Antônio, cavalhadas de São Pedro, os saraus do Brejo das Flores e até das desobrigas de Serrinha. Viu passar Angelim, a modesta vila onde nascera.

Quase noite, chegava ao término da viagem: Cinco Pontas. Estava na Mauricéa decantada pelos poetas pernambucanos. Recife a inconfundível capital de todo o nordeste, onde não há provincianismo. Mas sua cabeça estava cheia de lembranças dos dias vividos na venerada sacristia, no convívio do bondoso Agobar, Tônho, Sadi, Zé Maria e outros. Tocava o sino da Penha: o Ângelus.(Foto: Matriz de Santo Antônio na época em que Serapião era sacristão, trabalhou entre 1908/1920).


A PRISÃO ARBITRÁRIA DE SOUTO FILHO EM 1931: O IMPOSSÍVEL CRIME DE PENSAMENTO


Gerusa Souto Malheiros

A farmácia de Godofredo de Barros, conceituado farmacêutico, depois formado em medicina, situada na Avenida Santo Antônio, sempre representou para meu pai, o seu grande refúgio. Em muitas ocasiões eu o vi sentado na dita farmácia, rodeado de correligionários, principalmente aos sábados, dia da feira em Garanhuns. Farmácia dos Pobres, era o seu nome. Na sua velha paisagem da infância, creio que papai se sentia feliz alí, no convívio de pessoas simples e fiéis da sua terra, mais venturosa, estou certa do que no Congresso Nacional, na época funcionando no Palácio Tiradentes do Rio de Janeiro, pois no íntimo papai era também uma pessoa simples, despido de pompas.

Na mesma Avenida Santo Antônio, havia outra farmácia: a dos Lima, José e Jaime, filhos do grande amigo e compadre do meu pai, Florismundo Lima; Jaime era afilhado de meu pai. O número de afilhados dos meus pais, em Garanhuns, era incalculável. Geralmente, as afilhadas teciam lindas e primorosas rendas e as presenteavam à mamãe, desde as rendas de bilro até de "frivolité". Minhã mãe, durante toda sua vida, conservou uma caixa literalmente cheia dessas preciosas rendas.

Um desses afilhados foi o brilhante jornalista de Garanhuns, Ulisses Peixoto Pinto Filho, nosso estimado parente, filho de Felícia Souto, prima muito ligada ao meu pai. Ulisses deu grande cobertura no "O Monitor" jornal local.

Nelson Paes, outro parente recentemente desaparecido, muito se interessou pelo Centenário, demonstrando em todos os momentos, especial apreço a memória do meu pai.

Nelson era poeta e concorreu ao concurso no Centenário de Garanhuns. Foi o compositor vitorioso, condecorado naquela ocasião com justiça pelo Hino de Garanhuns Centenária, de sua autoria.

A vida atribulada de um político, só pode ser julgada pela posteridade. Papai sempre em contato com os seus longínquos eleitores (agreste e sertão) não se descuidava das suas bases e, sem aqueles contatos nenhum político sobreviveria, mesmo naquela época.

A fluidez e a elegância do seu estilo de vida, sempre impecavelmente vestido e apesar da sua baixa estatura, foi um homem elegantíssimo de uma elegância discreta.

Os seus ternos eram confeccionados por Nagib e Almeida Rabello, famosos alfaiates, radicados no Rio de Janeiro e os seus sapatos eram igualmente executados sob medida pelo sapateiro Cadete, muito conhecido no Rio, naquela época.

Usava camisas de colarinho duro com peito engomado e algumas vezes, a bengala. Uma delas trazia um punhal disfarçado, pois a Câmara dos Deputados Federais, nos idos de 1930, antes de ser deflagrada a Revolução, representava um ambiente de tensão entre os parlamentares de partidos opostos, sobretudo, depois que o deputado gaúcho Simões Lopes, matou covardemente, o deputado pernambucano Souza Filho, no recinto do plenário.

Souza Filho e meu pai, eram amigos fraternos e inseparáveis.

Creio mesmo, que Souza Filho representava para papai o irmão que ele não teve.

Pequenina, mas, me recordo do cáos e do vazio em nossa casa de Garanhuns, quando a dolorosa notícia nos chegou. Mamãe e papai, ficaram desolados, com essa enorme perda. De Souza Filho, me lembro muito vagamente, sei apenas que em todas as suas viagens à Europa (naquele tempo as viagens eram por mar), nos trazia lindas bonecas de Paris e Amsterdam para mim e para minha irmã, sem esquecer as bengalas e carros em miniaturas, para meu irmão.

De Haia, me trouxe certa ocasião um boneco holandês, vestido a caráter, que encantou minha infância por um longo período.

Souza Filho, comentava com muito humor, que saíra dos currais de Petrolina para a Câmara Federal e para os ambientes internacionais. Advogado militante em ascensão, ele e o meu tio Sebastião do Rego Barros, tinham juntos, rendoso escritório de advocacia, mas, ambos o fecharam, em busca de horizontes políticos na Câmara Federal.

Os dois se integraram completamente ao meio político e social daqueles tempos, vindo tio Sebastião a ser escolhido pelos seus pares, Presidente do Congresso Nacional.

Viveram tio Sebastião e Souza Filho, intensamente a "belle époque", porém, ambos possuíam como meu pai muito espírito público e jamais se aproveitaram dos seus mandatos e das suas elevadas posições, para a prática de negociatas e enriquecimentos ilícitos às custas do povo e da Nação.

Em meus arquivos e documentos de família, há uma correspondência de Souza Filho para meu pai e em uma delas, por demais interessante, onde menciona entre outras notícias, a bordo do transatlântico inglês, Arlanza, que Estácio Coimbra, considerava papai um "gênio político", pelos seus artigos no jornal "A Rua". Samuel Hardmann, médico dos meus avós maternos depois Secretário da Agricultura no Governo Estácio Coimbra, confirmou a papai, o que Souza Filho escrevera a bordo do navio, isto é, a apreciação conclusiva do Governador. Infelizmente, o "gênio político" se findou tão cedo, aos 51 anos incompletos, deixando uma lacuna sem precedentes, nas vidas tão jovens dos filhos, da esposa, dos familiares e dos amigos mais íntimos.

Preso em 1931, um ano após a Revolução de 1930, cheio de coragem e fortaleza interior, enviou à sua devotada esposa, esta carta, que aqui transcrevo, na qual, descreve sua arbitrária prisão.

"Casa de Detenção, 1º de novembro de 1931.

Chiquita:

Estou bem e quase restabelecido da gripe, só me resta a corisa e assim mesmo, atenuada. Aqui nada me tem faltado.

O "restaurant" Leite, tem me mandado as refeições.

Não me mandes mais nada, a não ser uma escova de cabelo e duas camisas de peito mole. (habitualmente, ele usava camisas de peito duro).

Estou alojado no gabinete médico.

Recomendo-te mais uma vez, toda a resignação, que te pode dar a tua fé cristã, muito propícia nestes momentos de provação moral. Esta situação é mais dura para ti do que para mim. O meu sofrimento único é não sofrerem tu e os queridos filhinhos.

Tudo passa. Não deves pedir a ninguém pela minha liberdade.

Confio na fortaleza do seu espírito e no ânimo dos filhinhos, que devem ir acostumando a ser fortes. Tenho dormido bem.

Façam de conta, que estou em Garanhuns, passando uns dias.

Beijos para ti, Esterzinha, Antony, Gerusinha e Claúdio.

Do teu

Soutinho."

Esta carta bem revela o espírito forte do meu pai; nessa fase dolorosa para qualquer homem, a de perder a sua liberdade e o de ser alvo de injustiças e mesquinhas perseguições de adversários políticos, em nenhuma hipótese mais dignos, do que o foi meu pai.

Ao ser recolhido à Casa de Detenção do Recife na madrugada de 30 de outubro, meu pai, como um preso comum, foi colocado numa cela de porta batida, incomunicável. No dia seguinte é que o deixaram no gabinete médico que chamavam de enfermaria. Passados três dias, o soltaram e a chegada à nossa residência, foi uma especie de apoteose: a casa ficou repleta de parentes e de incalculável número de amigos. Ele retornou, lembro-me, com aquele ar tranquilo de um ser humano com a sua estatura moral, da sua tranquilidade e da capacidade de não se abater com as vicissitudes que a vida sempre reserva aos homens públicos.

No seu rosto, continuava estampado aquele maravilhoso sentimento paternal, beijando e abraçando os seus quatro filhos. Lembro-me daquele intenso movimento de pessoas em nossa casa, todas, prestando solidariedade e testemunhos de apreço.

Recordo-me que nossos bons e saudosos amigos Dolores e Julio Santa Cruz, foram os primeiros a chegar.

Em seguida, o Secretário de Agricultura do Governador em exercício, João Cleófas de Oliveira, que lamentava e protestava tamanha arbitrariedade. Essas provas de leal afeição muito comoveram os meus pais, tão profundamente sensíveis aos testemunhos de afeto.

O tempo passou, a ditadura se instalou no País e um ano depois, eclodiu a Revolução Constitucionalista de São Paulo.

Papai disfarçadamente perseguido pelos donos do poder no Estado, resolver passar uma temporada no sul, afim de conseguir do seu primo e grande amigo General Pedro Aurélio de Goes Monteiro, a restituição da sua função de Curador Geral de Órfãos e Interdictos. A revolução de 1930, o demitira arbitrariamente dessa nobre função, mesmo sendo vitalícia. Demissão essa, sem nenhuma razão, apenas porque o Curador fôra figura de relevo no regime anterior.

Geralmente, em todas as Revoluções, são cometidas grandes injustiças, muitas arbitrariedades e perseguições.(fonte: do Livro Memórias de Amor, de Gerusa Souto Malheiros em homenagem ao seu pai, Dr. Antônio da Silva Souto Filho, Soutinho. Nasceu em 29 de agosto de 1886 e faleceu em 19 de julho de 1937 aos 51 anos. Foto: Casa onde a família de Souto Filho viveu, localizada à Praça Dom Moura nº 44).

PARA LEITURA E MEDITAÇÃO...


Há uma semana, o governo da China inaugurou a ponte da baía de Jiaodhou, que liga o porto de Qingdao à ilha de Huangdao. Construído em quatro anos, o colosso sobre o mar tem 42 quilômetros de extensão e custou o equivalente a R$2,4 bilhões.

Há uma semana, o DNIT escolheu o projeto da nova ponte do Guaíba, em Ponte Alegre , uma das mais vistosas promessas da candidata Dilma Rousseff. Confiado ao Ministério dos Transportes, o colosso sobre o rio deverá ficar pronto em quatro anos. Com 2,9 quilômetros de extensão, vai engolir R$ 1,16 bilhões.

Intrigado, o matemático gaúcho Gilberto Flach resolveu estabelecer algumas comparações entre a ponte do Guaíba e a chinesa. Na edição desta segunda-feira, o jornal Zero Hora publicou o espantoso confronto númerico resumido no quadro acima:

Os números informam que, se o Guaíba ficasse na China, a obra seria concluída em 102 dias, ao preço de R$ 170 milhões. Se a baía de Jiadhou ficasse no Brasil, a ponte não teria prazo para terminar e seria calculada em trilhões.

Corruptos existem nos dois países, mas só o Brasil institucionalizou a impunidade. Se tentasse fazer na China uma ponte como a do Guaíba, Alfredo Nascimento daria graças aos deuses se o castigo se limitasse à demissão.

Dia 19/07/11, o Tribunal chinês sentenciou a execução de dois prefeitos que estavam envolvidos em desvio de verba pública.


Sunday, May 27, 2012

Viagem fotográfica ao passado de Garanhuns; conservando a memória de nossa cidade


Convenção da UDN em Garanhuns ano de 1945. As pessoas da frente eram Deputados do partido. A esquerda onde tem a seta, o Jornalista Ulisses Pinto e a direita onde indica a outra seta, José Cardoso da Silva, saudosas memórias.

UMA FRASE COM 2067 ANOS

QUEM VIVE AS CUSTAS DO DINHEIRO PÚBLICO?


FREI DAMIÃO DE BOZZANO 15 ANOS DE SUA MORTE

Saturday, May 26, 2012

26 DE MAIO ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO DE IRMÃ DULCE


A fragilidade de Irmã Dulce era apenas aparente. A miudinha freira, raro exemplo de bondade e amor, foi arquiteta de uma das mais notáveis obras sociais do Brasil. Nascida Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, com 13 anos manifestou o desejo de entrar para o convento. Na época, já inconformada com a pobreza, amparava miseráveis e carentes. Aos 18, recebeu o diploma de professora e entrou para a Congregação da Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, do Convento de São Cristóvão, em Sergipe. Com os votos de profissão de fé, a já então Irmã Dulce, em homenagem à mãe, voltou a Salvador, onde trabalhou como enfermeira voluntária e professora de Geografia. Sem vocação para lecionar, dedicou-se ao trabalho social nas ruas. Começou prestando assistência à comunidade favelada dos bairros de Alagados e de Itapagipe. Mais tarde, fundou a União Operária São Francisco, primeiro movimento cristão operário de Salvador, e depois o Círculo Operário da Bahia, que proporcionava atividades culturais e recreativas, além de uma escola de ofício. Criou, em 1939, o Colégio Santo Antônio, instituição pública para os operários e seus filhos. No mesmo ano, ocupando um barracão, passou a abrigar mendigos e doentes, levados depois ao Mercado do Peixe, nos Arcos do Bonfim. Desalojados pelo prefeito da cidade, acolheu-os, com a permissão da madre superiora, no galinheiro do Convento das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, transformado em 1960, com o apoio do governador do Estado, que cedeu um terreno, em Albergue Santo Antônio, com 150 leitos (hoje o Hospital Santo Antônio). Inaugurou ainda um asilo, o Centro Geriátrico Júlia Magalhães, e um orfanato, o Centro Educacional Santo Antônio, que abriga atualmente 300 crianças de 3 a 17 anos e oferece cursos profissionalizantes. Nasceu em 26/05/1914 e faleceu em 13/03/1992. (Fonte: Portal O Nordeste).


RÁDIO JORNAL DE GARANHUNS 61 ANOS




A Rádio Jornal foi instalada na cidade pelo empresário F. Pessoa de Queiroz, sendo inaugurada no dia 26 de maio de 1951 do século passado, com o nome de Difusora de Garanhuns. A emissora garanhuense é pioneira no interior.

Friday, May 25, 2012

Lembranças...



José Inácio Rodrigues

Lembrar Mons. Adelmar, de suas aulas de civilidade, da grandeza de seu coração, de sua bondade, do exemplo de seu caráter, de sua altivez, mas sobretudo, da maneira como conduzia sua fé. Como esta permanece presentes nas suas ações de sacerdote! Lembrar de sua presença, na capela do colégio, é transportar todos nós, seus alunos, para um tempo que nos traz imorredouras saudades.

Lembrar de suas aulas, ministradas, no casarão da praça que hoje tem seu nome, é reviver um fastígio de glória. Lembrar 12 de outubro quando todos nós, jactanciosos desfilávamos pelas ruas ladeirosas de Garanhuns e depois do desfile, em frente ao educandário, esperar o professor Lustosa, entusiasmado, avisar que no dia seguinte não haveria aula.

Lembrar a preparação da Páscoa dos estudantes, com a capela repleta de padres, inclusive com a presença do bispo para a confissão em massa dos alunos, e saber que estes tempos não voltam mais. Porém estão fincados no recôndito da nossa alma, por esta razão, jamais serão esquecidos.

Enfim, Mons. Adelmar, como educador, nasceu na antiga Praça da Bandeira e cresceu para todo Brasil. Quem recebeu suas aulas naquele casulo do saber, e o esqueceu, é porque continua pobre de fé e de sabedoria.(Foto: alunos do Diocesano de Garanhuns em 1959).

GARANHUNS DÉCADA DE 50: ENCONTRO DE AMIGOS


Em pé da esquerda para direita: Antonio Vicente, Moisés (Chefe da Estação Ferroviária), Manoel Souto, Tenente Mandú, Roboão (Oficial de Justiça).
Sentados: Santino José de Oliveira, Dr. Osório Souto e José Rocha.

Wednesday, May 23, 2012

HÁ 32 ANOS: EXPLOSÃO NA AVENIDA SANTO ANTÔNIO


Tudo começou às oito horas e trinta minutos de quinta-feira, dia 05 de junho de 1980, a barraca de vender fogos pertencente ao senhor Protásio Gomes Azevedo, conhecido por Tarzinho, motivada por um circuíto na instalação elétrica, explodiu e em menos de dez segundos também explodiu a outra barraca pertencente ao senhor José Alves da Silva Filho, conhecido por José Barroso.
Ambas as barracas de vender fogos foram armadas sobre a marquise que serve de cobertura para o Bar "O Colunata" e vários outros boxs a ele conjugados.
A explosão provocou um deslocamento de ar num raio de ação de mais ou menos quinhentos metros, cujo impacto arrancou o teto de várias casas comerciais localizadas na Avenida Santo Antonio, quebrando as vidraças e portas de várias delas.
A mais atingida foi a Veneza Americana, pertencente ao senhor Silvio Apolinário que teve as portas arrancadas e as mercadorias totalmente danificadas.
O setor bancário também sofreu terríveis danos, sendo que o mais atingido foi o Banco do Brasil que teve o forro de gesso dos dois andares totalmente danificados, dando a impressão de que havia sido decorado para uma baile de São João.
O Cinema Jardim que ficava localizado na praça do mesmo nome, teve o forro da marquise e do salão de espera também destruído. A placa de cimento armado a ferro que cobre os boxs ficou parcialmente destruídos.
Na catástrofe morreram quatro pessoas e trinta e oito ficaram feridas. Esta foi a segunda maior catástrofe acontecida em Garanhuns. A primeira foi a Hecatombe de 1917, por questões políticas, tendo morrido na ocasião mais de dez pessoas. Nesta calcula-se uma prejuízo de aproximadamente cincoenta milhões de cruzeiros. O Prefeito Ivo Amaral ao ter conhecimento do lamentável acontecimento comunicou-se imediatamente com o Governador do Estado e todas as Secretarias de Governo. Meia hora depois do acidente a Avenida Santo Antônio ficou sob controle das autoridades que tomaram todas as providências necessárias ao socorro às vítimas para evitar incêndio nas casas comerciais e bancos.
É conveniente se resaltar o trabalho desempenhado pelo 71º B.I. e 4º Companhia de Polícia que imediatamente enviaram seus soldados e num trabalho constante amenizaram o sofrimento de todas população.
Também prestaram inestimáveis socorros a Prefeitura desta cidade que por determinação de Ivo Amaral foram colocados em ação todos os engenheiros, trabalhadores, secretários e os veículos do município, a Câmara Municipal, a Rádio Difusora que num trabalho de esforço e profícuo tranquilizou a população, a Celpe que imediatamente procurou através de seus eletricistas, consertar a rede de energia, prefeitos da região que vieram se solidarizar com o colega chefe do executivo local e o povo em geral que num espírito de solidariedade não saiu da praça durante todo o dia.
Garanhuns viveu naquela quinta-feira, dia Corpus Christi, o mais terrível drama de sua história. A nossa população de cento e vinte mil almas ficou totalmente traumatizada.
Por volta das 13:30h chegou a esta cidade o Governador Marco Maciel, acompanhado dos Secretários José Tinoco, da Secretaria de Trabalho e Ação Social, Djalma Oliveira, da Secretária da Saúde e vários assessores do Governo.
Na ocasião e no local do sinistro o Governador Marco Maciel prometeu toda ajuda necessária as vítimas e aos que sofreram danos material.
(Reportagem do Professor e Jornalista José Rodrigues da Silva(saudosa memória), para o Jornal "O Monitor" em junho de 1980 - Foto: Avenida Santo Antônio após a explosão).

O Vendedor de Erva


Marcílio Reinaux

"Olha aquí, minha gente, eu
tenho remédio pra tudo. Pra
toda doença. Peça e aproveite".

E ele doente de tudo, vai vendendo
As suas ervas, em latas, potes, vasilhas...
Raízes, sementes, cascas de plantas
De tudo tem. Pra todos os males.
"Só não tem remédio para morte"
Diz o vendedor.

Tem boldo para o fígado,
Colônia como calmante,
Sasafraz para reumatismo.
Alecrim para a dentição.
Perpétua-branca, para asma.
Erva-Doce, para enxaquêca.
Pega-Pinto, para uretra.
Jurema-Branca, para o banho e
Semente de Romã para garganta.
Ainda tem caroço de Jucá,
Para os intestinos, Morocó
Pra todo tipo de fraqueza.
Semente de Inhame para derrame.
Gergelim para os nervos,
Canela para o estômago.
E o Giló para reumatismo,
Malvarosa para lambedor,
Bom-Nome para os intestinos e
Semente de Gerimum para o "miolo".

Pedra Ume, para lavagem e
Raspa de Catingueira para
Os nervos. Eucalípto para febre.
A salsa serve para alergia,
O Velame para reumatismo,
O Capim Santo para o estômago,
Sena para o resguardo
Ameixa para inflamação, e a
Alfazema cheirinho de criança)
Para defumar. E o Cambão serve
Para o Catarro.

"Olha aquí minha gente, grita
O homem, eu tenho remédio para tudo".
(Tosse, catarro, pigarro, cigarro),
De fala entremeada, cigarro no canto
Da boca, cheiro acre, poluindo o
Espaço. "Pra toda doença...
Peça e aproveite".
Vai assim o "Vendedor de Remédio"
Vendendo saúde a preços módicos.
E a dele?
(Foto: antiga Praça da bandeira hoje Praça Mons. Adelmar da Mota Valença ao fundo estação ferroviária e do lado direito Avenida Dantas Barreto).

Tuesday, May 22, 2012

O PESO DA VERDADE

Carlos André

Quando eu partir,
Deixarei com lembranças marcadas,
Tanto os dias, como as madrugadas,
Em que nos deleitamos a sorri,

Quando eu for embora,
Deixarei como recordação,
Os momentos de ilusão,
Do amigo para qualquer hora,

Quando não mai estiver ao teu lado,
Sentirás a falta dos momentos,
Implorarás por meus sentimentos,
E no vácuo, gritarás teu desabafo,

Quando não mais te amar,
Cairás na realidade,
Sentirás o peso da verdade,
E clamarás não mais me magoar.

Monday, May 21, 2012

Meu primeiro amor de verdade

Valdemir Alves de Oliveira


Do tempo que nós namorávamos
Aí vem recordação do passado
Nós terminávamos abraçados
Encontro-te e fico feliz
Na sexta tu vens e não demora
Na quinta espero tua volta
Na quarta já penso que fostes embora,
Na terça eu não te vejo
Na segunda eu te imploro
No domingo eu te adoro
Que namoro no sábado
Meu pecador e minha dor
Minha paizão e minha solidão
És meu primeiro amor.

Saturday, May 19, 2012

DOCUMENTO HISTÓRICO QUE EMANCIPOU GARANHUNS


"Discussão do Projeto nº 1 de 1878, elevando a categoria de cidade a Vila de Garanhuns, conservando-se-lhe a mesma denominação, constante da Ata da Sessão Ordinária da Assembléia Provincial de 31 de dezembro de 1878 ao meio dia sob a presidência do exmo. Sr. Dr. Augusto Leão.

O SR. CYSNEIROS - Sr. Presidente, não conhecendo as vantagens que para a causa pública possam resultar da aprovação do projeto em discussão, eu desejaria ser esclarecido a tal respeito, a fim de poder votar com toda a consciência e conhecimento de causa. Não sei que utilidade pode advir à uma localidade pela categoria maior ou menor que se lhe dê. Desejaria que o autor do projeto desse-me a esse respeito quaisquer esclarecimentos.

O SR. BARÃO DE NAZARÉ - Sr. Presidente, quisera ter neste momento o talento ou, ao menos, inspirar-me na sua inteligência para bem mostrar a esta Assembléia o quanto vale a Vila de Garanhuns, circunstância que mereceu a minha atenção, e levou-me a apresentar à esta casa o projeto elevando essa vila a categoria de cidade. Mas, falece-me os recursos que sobram no meu ilustre amigo...

O SR. CYSNEIROS - Não há tal.

O SR. BARÃO DE NAZARÉ - ... apenas direi algumas palavras, ainda mesmo que não consiga convencer V. Excia, ainda mesmo que o faça com aquela vantagem que era para desejar, a fim de que possa alcançar para o projeto o voto do nobre deputado.

O precedente que se tem seguido nesta casa, elevando à categoria de cidade muitas vilas desta província, não tem sido adotado somente pelo fato de aumento de rendimento a auferir, mas também com o fim de auxiliar o aumento de população e desenvolver o comércio dessa localidade porque, como sabe V. Excia., é sempre uma animação aos povos que neles residem e um incentivo ao seu engrandecimento. (Apoiados).

A Vila de Garanhuns, Sr. Presidente, é uma das mais antigas e notáveis desta província: foi elevada à vila em 1810; teve ainda uma elevação por alvará de 5 de dezembro de 1815 e foi finalmente, em 1840 elevada à categoria de cabeça da comarca. Tem sempre caminhado na vanguarda das povoaões, que procuram distinguir-se pelo trabalho; florescente e garboso. Garanhuns, pode-se dizer - é uma parte da Europa, tirada no Velho Mundo, e colocada em uma região da província de Pernambuco; é um clima ameno pela pureza do ar que ali se respira, os seus vales nunca perderam sementes, a questão é plantá-las; tem o seu comércio de algodão muito bem desenvolvido; a criação de gado de todas as espécies; todos os frutos da Europa podem ser ali plantados e colhidos com grande facilidade: o fabrico do queijo e da manteiga, que já é considerável, pode perfeitamente aperfeiçoar-se e tornar-se um dos seus melhores ramos de comércio. Garanhuns é um dos pontos da província onde a iniciativa dos habitantes é mais pronta e firme, e a execução ativa e perseverante.

Está em andamento a linha férrea do Recife a São Francisco, que vai ter o seu ponto terminal em Garanhuns.

Ora, se hoje, com a dificuldade das viagens a cavalo, é em Garanhuns que os filhos desta terra, como as dez outras províncias, vão muitas vezes beber os ares puros...

O SR. PRAXEDES PITANGA - E as águas...

O SR. BARÃO DE NAZARÉ - ...conquistando pronto estabelecimento dos males que sofrem, se tivermos, como vamos ter, uma estrada de ferro, é certo que estes favores da natureza deverão atrair para aquela região abençoada, grande contigente de população em busca da saúde tão prestáveis à cultura.

Chamo a atenção desta Assembléia para as seguintes palavras extraídas do luminoso relatório do ilustre engenheiro J. M. da Silva Coutinho, apresentado do Governo Imperial em 1874, como resultado dos seus estudos a respeito do prolongamento da estrada de ferro a que acabo de referir-me: "O planalto de Garanhuns, notável pelo seu clima uniforme, fresco e salubre, torna-se ainda mais interessante colocado em meio dos sertões quentes no norte, podendo produzir muitos gêneros dos climas temperados que recebemos dos estrangeiro, sendo por esta razão o mais apropriado para o estabelecimento de emigrantes europeus, que encontrarão ali os mesmos recursos que em São Paulo e Minas.

"Em vasta escala se poderá desenvolver a criação de carneiros, e consequentemente a produção de lã, de que tanto proveito tem auferido os nossos vizinhos do Prata.

"Entre as diversas fontes perenes de água puríssima sobressai a de todas a mais afamada dos Cajueiros, junto a vila".

Desejo, Sr. Presidente, que sejam estas palavras transcritas no meu discurso para que sejam informados das vantajosas condições naturais de Garanhuns, todos aqueles a quem possam interessar, visto como são elas de todo ponto excepcional.

Garanhuns está situada em uma colina levemente inclinada e muito formosa, cortada por quatro ou oito ruas muito bem alinhadas. Entretanto Garanhuns não tem sido favorecida até hoje pelas assembléias provínciais: nenhuma loteria foi alcançada em favor da sua matriz, que apesar disso é muito bem construída; uma outra igreja se acha em construção, e para ela deve olhar esta Assembléia.

Como disse há pouco, é muito importante o comércio de Garanhuns: existem ali casas de negócio tão boas, tão bem montadas como as dessa praça há ali uma feira imensa em que semanalmente se reúnem 2 ou 3 mil indivíduos, vendendo seus produtos e comprando fazendas e gêneros de que fazem suas provisões.

Convém ainda acrescentar que Garanhuns tem dois termos notáveis: Correntes e Palmeira de Garanhuns onde também existem feiras muito importantes. O povo dessas localidades deseja também a aprovação do presente projeto, porque com a elevação de Garanhuns à categoria de cidade, com a construção da estrada de ferro, o seu comércio há de animar-se consideravelmente, porque todos sabemos que as estradas de ferro constituem o mais pronto e o mais poderoso elemento de progresso moral e material dos povos, o meio mais fortemente cooperador do desenvolvimento das riquezas das nações.

Com a elevação à categoria de cidade da Vila de Garanhuns nenhum ônus virá aos cofres provinciais, porquanto o aumento de cem mil reis no ordenado do professor, cuja cadeira poderá passar a ser de terceira entrância, será perfeitamente compensado pelo aumento proveniente da décima.

HÁ UM APARTE:...

O SR. BARÃO DE NAZARÉ - Perdoe-me V. Exc., mas, pelo fato da elevação de Garanhuns à categoria de cidade, pode o seu professor vir requerer a esta Assembléia que seja a cadeira considerada de terceira entrância, isto é que se lhe reconheça igual direito ao dos professores das outras cidades. Mas essa despesa nada vale, porque, como disse, é compensado pelo produto da décima urbana, que recolherá bastante dinheiro aos cofres provinciais, pois Garanhuns é já bastante grande.

O SR. CYSNEIROS - Mas eu não toquei nisso.

O SR. BARÃO DE NAZARÉ - Estou apenas respondendo a uns apartes que me deram. Sr. Presidente, quando eu disse que Garanhuns era terra que se ia buscar saúde, referia-me também (tenho gosto em repeti-lo) as belas fontes cristalinas que alí há, e que a despeito dos maiores verões, nunca secam; Garanhuns nunca sentiu falta d'agua, nunca se queixou de seca. E como poderia queixar-se se tem vales tão férteis e amenos? quando lá chegar a estrada de ferro, será com certeza, iniciada à cultura do trigo e do centeio e das diferentes produções agrícolas a que se presta aquele solo de prodigiosa fertilidade.

O SR. BARÃO DE TABATINGA - Merece ser elevado a cidade, merece.

O SR. BARÃO DE NAZARÉ - Sr. Presidente, tenho a consciência de haver justificado o projeto em discussão, se bem que por outro lado me sentia convencido de que qualquer dos membros desta Assembléia o teria feito com mais precisão a clareza. Se tivermos emigração estrangeira que para ali siga, necessariamente teremos aqui dentro de pouco tempo esses belos queijos flamengos que os holandeses nos mandam. Não sei Sr. Presidente, se terei satisfeito de certo modo ao meu ilustre colega.

VOZES - De sobra.

O SR. BARÃO DE NAZARÉ - Entretanto, não sabendo se a discussão tomou desenvolvidas proporções...

O SR. BARÃO DE TABATINGA - É de supor que não.

O SR. BARÃO DE NAZARÉ - ... reservo-me para dizer mais alguma coisa depois. Peço aos meus ilustres colegas que, tomando em consideração as minhas humildes considerações, embora sem autoridade, que me falece (não apoiados) e sobre aos nossos deputados, votem pelo projeto, porque desta sorte satisfazem a uma aspiração legítima daquela importante localidade.

O SR. BARÃO DE TABATINGA - Pelo meu voto elevava-se até a Condado, se fosse possível.

Encerrado o debate, é o projeto posto a votos e aprovado, sendo dispensado do interstício a requerimento do Sr. Barão de Nazaré".(foto: Silvino Guilherme de Barros - Barão de Nazaré, autor do Projeto que elevou Garanhuns à categoria de cidade).

DIOCESANO DE GARANHUNS 80 ANOS - 2ª PARTE

Friday, May 18, 2012

JUSCELINO KUBITSCHEK: O BRASILEIRO DO SÉCULO EM GARANHUNS


Garanhuns na década de 50 - Confederação Nacional da Indústria, Auditório da Rádio Difusora de Garanhuns. Nesta convenção foi fundada a SUDENE em 25/04/1959.
Foto: Presidente Juscelino Kubitschek, Governador Cid Sampaio, Silvio Apolinário, Tenente Nelson Paes de Macêdo, Ayrton Diogenes entre Cid e Apolonário, Sr. Pedro Lima (Prefeito Interino).
Detalhe da foto: Silvio Apolinário - Presidente do Grêmio Cultural Ruber van der Linden, entregando ao Presidente JK, uma maquete sobre a futura capital brasileira, esculpida por Renato Pantaleão.
O Sr. Renato Pantaleão também esculpio no alto do Magano a peça principal, o Cristo na administração do Dr. Celso Galvão.

PRÉDIOS HISTÓRICOS DE GARANHUNS - PARTE 2


CASA DE D. SÍLVIA GALVÃO TAMBÉM É DERRUBADA UM MÊS APÓS O "CASTELINHO"

Na tarde do sábado 21 de dezembro de 1996, quando o dia ia acabando, foi dado início à vergonhosa ação de derrubar a casa(foto) de D. Sílvia Galvão. Poucos dias depois, no Natal, a paz, que se buscara nas árvores, nos ares e nas casas, era subitamente magoada, quando os olhos de qualquer garanhuense que ama a terra, deparavam com o lugar da casa e, no lugar, os torrões, as pedras, lembrando os tempos da pré-história. Antes, em novembro, a casa de Ruber van der Linden tinha sido derrubada e, em protesto, a imprensa do Estado divulgou o crime consumado.

Garanhuns ficara abalada, tão grande como foi o tombo do "Castelinho". Pois, quando ainda se chorava a perda histórica, a ignorância escancarou os seus dedos sujos e, com a forte mão do poder e do peso do ouro, agrediu pesadamente a casa e o sentimento dos que amam. Os que amam não fazem estas coisas! Está lá, no lugar da casa, a casa vazia das suas paredes e do seu telhado. Mas continua lá... Como D. Sílvia e o não menos inesquecível Dr. Celso Galvão, duas vezes prefeito de Garanhuns, a casa azul (nunca mais amarela como era), azul ou da cor do ar.
O ar tem cor, o horizonte, a poesia, o sentimento, a cultura... mas a ignorância, não! Esta só ostenta o que pode, o que pesa.(fonte "Jornal "O Século" de maio de 1997).

A cultura está para um povo como a alma está para a vida, um povo sem memória, é um povo sem destino. É muito triste quando culturas são esquecidas, transformadas, ignoradas, mutiladas, é triste quando um povo não pode contar sua história.

VELHO CASARÃO DE "CIÊNCIA E FÉ"


Aqui recebes da virtude o exemplo,
Aqui aprendes a ser meigo e justo.
Ama esta casa! Pede a Deus que a guarde.
Pede a Deus que a proteja eternamente.
Porque. Talvez. Em lágrimas, mais tarde.
Te vejas, triste, desta casa ausente.

RECORDANDO O CENTENÁRIO DE GARANHUNS: 1879-1979


AO POVO DE GARANHUNS

Ao ensejo da comemorações festivas dos CEM ANOS de emancipação política do Município de Garanhuns, desejo expressar a todos os munícipes a minha fé na dignidade da Cidade que a passos largos cumpre o vaticínio do Barão de Nazareth, tornando-se, pela beleza das suas flores, pela excelência das suas águas, pela sua paisagem urbanística, pelo seu clima salutar e pelo seu povo altivo e empreendedor, apta a desempenhar um grande papel na liderança do Agreste Meridional fiel a sua destinação histórica.

Foi atraído por essas virtualidades que o Barão de Nazareth se apressou em torná-la Cidade e é nessa antevisão que povo e Governo juntos não medirão esforços, a fim de que a "Cidade Centenária" sempre engalanada e florida se curve ante a onipotência de Deus e se encaminhe em direção às alturas.

Que o povo de Garanhuns faça do seu clima um traço de união para a sua destinação de Cidade progressista que acredita no Homem e o faz artesão de sonhos que se transformam em realidade.

Honra-me sobremaneira em assinar esta mensagem jus à confiança que o povo me depositou, nesta condição de Prefeito do Centenário e mandatário desse mesmo povo, desta bela e valorosa cidade que nunca mim faltou na caminhada incansável pela grandeza de Garanhuns.

Garanhuns 04 de fevereiro de 1979.

Ivo Tinô do Amaral(Foto: Prefeito de grande visão administrativa).
Prefeito

PRÉDIOS HISTÓRICOS DE GARANHUNS - PARTE 1



Garanhuns é, como o seu próprio nome indica, uma cidade histórica. São os guarás e os anuns. Os índios, os negros. Os sertanistas, os caboclos. O rio Mundaú, as vilas, as águas, as serras, o clima e, é tão bonito dizer isto, as flores. Os homens também. Os titulares da história, que fizeram Garanhuns... que plantaram as árvores e que construíram as casas. Os que moraram e que deixaram os sinais da passagem. São muitos, mas é urgente que se rememore um apenas. Um dos maiores vultos: Ruber van der Linden. De quem o nosso historiador Alfredo Leite Cavalcanti disse: "Um dos mais preciosos cidadaõs garanhuenses" - História de Garanhuns, Vol. II, pág. 140. Este homem foi engenheiro, professor e poeta. Planejou e executou os primeiros serviços de água e de luz de Garanhuns. Os mesmos que, com os anos, sendo alterados pelo progresso, estão aí hoje, sob o domínio da Compesa e da Celpe. Teve grande participação na cultura, ensinando línguas, física e química. Organizou e escreveu muitas revistas e jornais. Fez o "Pau Pombo", hoje com o seu nome.
Homenageado também, não fazia um ano de sua morte, pelos fundadores do Grêmio Cultural Ruber van der Linden, em 1949.

Em seu famoso soneto "Garanhuns", em que deseja e prevê o progresso desta cidade, escreveu os dois primeiros versos assim: "Alcandorado no pendor de um monte/ um casario a se elevar no barro". Tempos depois (1944), construiu a casa onde morou e que foi a sua última morada: o prédio - atualmente conhecido como "O Castelinho", que fica à Avenida Getúlio vargas, atrás do Colégio Evangélico XV de Novembro. Na época, foi uma das melhores casas de Garanhuns e continua, hoje, bonita e de valor histórico muito grande. É a casa de Ruber van der Linden! O marco que melhor pode guardar a sua memória, querida, que jamais será apagada por Garanhuns. Porque esta morada ilustre está historicamente entre "Um casario a se elevar do barro". E em barro só nunca, é o desejo da família garanhuense, haverá de se tornar.

Esta casa, não obstante o que representa, encontra-se, todo mundo sabe, abandonada. Contudo, o Prefeito de Garanhuns, promete que ela vai funcionar como um "Espaço de Cultura", onde acomodará exposições artísticas e servira para lançamentos de livros. Isto tranquiliza! O anseio é que Garanhuns não padeça. A sua história, pelas formas mais vivas e presentes, que são casas, as praças, os monumentos, não venha sofrer perdas.

O prédio do Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti, outro monumento de grande importância, foi tombado como patrimônio histórico, oficialmente. Em 19 de julho último, por ocasião da abertura do Festival de Inverno, Bartolomeu Quidute, como Prefeito, e Raimundo Carrero, como Presidente da Fundarpe, assinaram o documento definitivo. O Centro Cultural, como o nome do gremista e historiador Alfredo Leite Cavalcanti é uma memória assegurada por lei. O Grêmio Cultural Ruber van der Linden aplaudiu o ato, como Garanhuns ficou feliz. Salve a nossa história!
(Fonte: Matéria publicada no caderno Espaço Cultural do jornal "O Monitor", em agosto de 1996.
Quatro meses após esta matéria "O Castelinho", foi ao chão.
1ª foto: O Castelinho em Julho de 1996.
2ª foto: O que restou do Castelinho em Novembro de 1996.

"A cultura está para um povo como a alma está para a vida, um povo sem memória, é um povo sem destino. É muito triste quando culturas são esquecidas, transformadas, ignoradas, mutiladas, é triste quando um povo não pode contar sua história".


O SURGIMENTO DOS BAIRROS DE GARANHUNS


Segundo os historiadores os primeiros bairros de Garanhuns, foram Boa Vista, Magano e São José.

A Boa Vista, teve como marco inicial o fincamento de uma cruz de madeira de aproximadamente dois metros de altura, no alto de São Miguel, sendo posteriormente construída a Igreja de São Sebastião.

O Magano, apresentava um desenvolvimento inferior, em 1898, não contava com mais de 25 casas, foi fundamental para sua formação, também um fato religioso, a construção da Capela, hoje Matriz de Santa Terezinha, sendo o seu primeiro vigário o então Padre Tarcísio Falcão.

Já o bairro de Heliópolis, teve início em 1925, com a aquisição de um terreno, pelo Missionário Presbiteriano, Reverendo Dr. George W. Taylor, com o objetivo de construir um prédio onde atualmente funciona o Colégio XV de Novembro. Para que isto acontecesse, se fazia necessário idenizar os moradores de uma rua humilde, chamada Rua do Alecrim, com o deslocamento destes para uma das margens da antiga estrada para Santa Quitéria das Frexeiras.

Contam ainda os historiadores que, o então Prefeito Euclides Dourado, vistoriando a construção destas casas, chegou ao local onde denominou de Monte Sinai, ficando impressionado com a vista que o local proporcionava, resolveu se empenhar no desenvolvimento desta área, iniciando pelo alinhamento da "Rua do Recife", hoje Dr. José Mariano.(foto: Rua Nilo Peçanha em 1931, ao fundo a Catedral de Santo Antônio).

A voz do silêncio


Onilza Braga

O silêncio do tudo
O silêncio do nada
O silêncio embaraçoso que nada diz
E nos inquieta e angustia
O silêncio de quem nada mais tem para dizer
O silêncio vazio, no qual nem o eco do passado ressoa
O silêncio frio
Desenvolvido
Despido
O silêncio do nada
O silêncio
No qual rebuscamos nossos cérebros
À procura de palavras de quaisquer origens
Que nos definam a plenitude que sentimos
O êxtase
O prazer de ser
A harmonia do completo
A essência
O valor da quietude
E não encontramos palavra alguma em nosso
pequenino e limitado mundo onde só as coisas
simples têm códigos e fórmulas e símbolos e
palavras que as explicam
Então descobrimos que em vão procuramos definir
O Superior
O Pleno
A Harmonia
A Perfeição
A Paz
O Espírito
E ficamos em silêncio. O silêncio do tudo.
É hora da calar. É hora de ouvir. Deus

Thursday, May 17, 2012

Insônia


O sapateiro João da Sola, como era conhecido onde morava, era vítima de uma insônia terrível que o obrigava a passar noites e mais noites em claro. Geralmente passava os prolongados serões em sua tenda, nos consertos de calçados. Era, igualmente, um inveterado frequentador de sentinelas. Não pretendendo deixar de trabalhar à noite, nem tampouco perder um velório, adotou por hábito solicitar consentimento dos familiares dos mortos para instalar sua banca e, assim, consertar sapatos na sala próximo ao defunto, irmanando-se a dor dos parentes, enquanto realizava seu trabalho de sapateiro, havendo até quem o convidasse, nessas ocasiões, porque ficava ao lado do caixão, a noite toda, trabalhando, houvesse ou não pessoas no velório.

Embora não fosse agradável a missão, tornou-se útil sua presença, sendo infalível, pouco antes da meia noite, onde houvesse falecido uma pessoa. Os familiares dos mortos comumente se recolhiam, quando se encontravam exaustos e com muito sono, na certeza de que tudo permaneceria em ordem: as velas acesas, o incenso queimando e, pela manhã, o cadáver seria enterrado em perfeitas condições para realizar a última viagem.

O sapateiro ganhou fama de corajoso, não tendo medo de almas nem de coisas do outro mundo. Assim, não tardou surgir quem desejasse por à prova sua coragem e desassombro. Assim, foi simulado a morte de determinado elemento, que ficaria deitado no caixão, e lá para as tantas, quando o sapateiro estivesse sozinho, trataria de se levantar para assustá-lo.

A notícia do falecimento chegou de imediato ao conhecimento de João da Sola, que, perto da meia noite, surgiu para ficar fazendo sentinela ao defunto e, ao mesmo tempo, prosseguir no seu trabalho, sendo aceito de bom grado por todos. Os presentes, conforme o combinado, retiraram-se momentos depois. Ficaram espreitando, para acompanhar o desenrolar dos acontecimentos. Preocupado com o defunto, vez por outra, ele deixava a banca e se aproximava. Ora para colocar um pouco de incenso numa vasilha com brasa, embaixo do esquife, ora para acender uma vela apagada pelo vento. E, em dado momento, quando se aproximou do caixão, o ocupante, para pregar-lhe o susto, conforme o combinado, foi-se levantando. João da Sola, que estava com o martelo numa das mãos, não conversou: vibrou-lhe um tremendo golpe na testa e exclamou:
- Oxente, quem já viu defunto se levantar!...

(Texto de Humberto de Moraes de saudosa memória)

A Lenda do "Carro-de-boi-encantado".


Waldimir Maia Leite

Vítima de Varíola, faleceu em Garanhuns, em 1890, a viúva do Dr. Luís Afonso de Oliveira Jardim, ex-Juiz de Direito da Comarca, dona Secunda de Souza Jardim. Num caixão, confeccionado com chapas de ferro, Dona Secunda foi, então, conduzida, à noite, para o cemitério, num carro-de-boi. O carreiro, dias depois, também morria. E hoje, em Garanhuns, a horas mortas e de Lua, escuta-se o fantástico rodar do "carro-encantado":

- "Acabei de ouvir, agorinha mesmo.

Primeiro ali pelas bandas da Boa Vista; depois, o canto mudava: ia pra rua d'Areia".

Esse o testemunho de inúmeras pessoas.

O canto noturnal sobrevive, na cidade.

(Ouvio-o, juro por Deus, quando criança; senti o passar do "carro-de-boi-encantado", nas minhas angustiadas noites infantis, na praça João Pessoa. Me arrepio todo, ainda hoje!).

Quem não o ouve, agora, quando a neblina fecha as pálpebras para o umedecido adormecer da cidade?

- "Menino, vai dormir, menino, olha o "carro-de-boi-encantado"!

A intimidação de Dona Lalu, minha mãe, não me perturbava: o canto ia comigo, eu o acompanhava.

Garanhuns em 1890 uma cidade então invadida pela varíola.

"O Governo do Estado de Pernambuco determinou, então, à Intendência a nomeação de uma pessoa idônea para ir ao Recife verificar como se fazia a inoculação da linfa vacínica e de lá trazer quantidade suficiente de todos os habitantes. Foi nomeado o Dr. Miguel Cursinho Vila Nova que muito bem se desincumbiu da missão".

Pois Garanhuns estava "em tempo de peste".

Sou aqui um narrador: às caladas da noite, quando o Magano treme de frio, encolhe-se entre as sete bíblicas colinas e repousa o alto dos seus 1.056 metros de altitude no ombro de escuro horizonte, Dona Secunda de Souza Jardim vai ser sepultada.

Num carro-de-boi, o vento sibila, em marcha fúnebre. E a lenda então ficou, varando o tempo:

- "Pois eu acabei de ouvir, agorinha mesmo, o "carro-de-boi-encantado"! Primeiro foi lá pelas bandas da Boa Vista; depois foi indo, foi andando com quem vai pros lados da rua d'Areia"!

- "Você ouviu?"

- "Sim!"

- "Eu também!"

- "E eu!"

- "Ele canta como quem chora!"

- "As vezes para, com quem respira, cansado!"

- "Me arrepio toda!"

- "Menino, vai dormir, menino, olha o "carro-de-boi-encantado" que vai te pegar!"

(Ilustração de Salomão Jalfim Filho).