Tuesday, December 17, 2013

A BELEZA DA "SUIÇA PERNAMBUCANA" TRANSCEDENDO FRONTEIRAS

A Igreja de  Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, considerada um dos pontos mais bonitos de Garanhuns, pelo seu belo aspecto arquitetônico.

Sem muitas surpresas, Garanhuns continuar a atrair pelos seus encantos turistas de toda parte, ao tempo que causa admiração em todos os recantos do país, sempre os visitantes levando uma imagem fenomenal, sobretudo de nossa beleza natural e descrevendo a todos o "quê" da terrinha. Hoje, em dois depoimentos transcritos de páginas turísticas, comprovamos as imagens mais marcantes vistas por quem aqui acorre em busca de descanso, lazer e prazer.

Ao amanhecer, o sol é suave, e somente quando o relógio das flores na entrada da cidade sinaliza as dez da manhã se instala, de fato, o verão. Em pleno outubro, no Agreste Meridional de Pernambuco, ainda é tempo de muito frio. Garanhuns, a 230 quilômetros do Recife,vive o ano inteiro de clima de férias e flores.

Conhecido por seu clima ameno, a cidade respira tranquilidade e transpira bucolismo. Os jardins domésticos invadem as ruas com roseiras, dálias e crisântemos. Nas praças que surgem a cada quarteirão, árvores mais que centenárias testemunham outra das características marcantes da cidade. Em Garanhuns, somente o relógio de flores marca a passagem do tempo.

Nada parece interferir no ritmo manso da cidade e dos seus moradores. Carros de boi, carroças puxadas a burro, mascates e leiteiros ainda arrastam suas cargas por ladeiras. Antigas vilas familiares, com casas de porta e janela, grandes alpendres floridos, emergem no centro e nos arrabaldes. Na zona rural, fazenda de café e cultivo de morango e rosas, engenhos e casas de farinha. Na área urbana, uma florescente indústria de malharia.

São 90 mil habitantes, 70 por cento deles na área urbana. Gente de meia idade ou idosa, em sua maioria, pois os jovens deixam Garanhuns logo, a tranquilidade, para eles, parece acomodação. Ficam os com menos de 18 anos ou com mais de
30, o que termina conquistando para a cidade a preferência de quem prefere um contato íntimo e sereno  com a natureza.

Surgida na primeira metade do século, XVII, com a ocupação do planalto pelos índios cariris (chamados unhanhum ou garanhun), é na feira popular, nas sextas e sábados, que Garanhuns manifesta a herança indígena - num comércio que se notabiliza pelo sistema de troca. É a Feira da Mentira, referência aos argumentos dos vendedores que permutam camisas por galinha, candeeiros por cachorros, ferro por espingardas, relógios por bicicletas, de acordo com a imaginação e a disposição do freguês.

Nem só de trocas, contudo, vivem os feirantes de Garanhuns. Lá estão à venda sólidas cerâmicas utilitárias (panelas, alguidares, pratos, copos, jarros), objetos domésticos feitos em flandres de madeiras (desde as prosaicas bacia e colheres de pau até bem cuidados móveis rústicos), tapetes e brinquedos de palha, bonecas de retalhos. Sem falar na comida típica vendidas em barracas guarnecidas com tocos de madeira e protegidas por lonas. São pratinhos de barro transbordados com mão-de-vaca, galinha à cabidela (ao molho pardo), carne-de-sol com fava (uma espécie de feijão), cuscuz com charque e mungunzá. Para acompanhar, nada melhor que uma aguardente de cabeça, curtida num dos alambiques da zona rural, ou licor vendidos no Bar dos Bancários, centro da cidade. Há os de rosa, graviola, goiaba, tamarindo, cajú, côco, canela, anis, cajá, numa variedade que se amplia segundo o paladar do cliente.

Estendida sobre colinas após se derramar sobre o planalto, Garanhuns deitou raízes num solo rico em águas minerais. De lá sai a água Serra Branca, engarrafada para todo país. E nas torneiras de muitas vilas familiares jorra água captada em fontes quase à flor da terra. Numa delas, a Vila Maria (antiga fazenda de café no centro da cidade, dominada por um importante solar de arquitetura colonial do século passado), uma fonte mineral abastece rudimentares carroças que, depois, vendem o líquido de porta em porta.

Fontes não faltam nos dois parques principais da cidade, o dos Eucalíptos e Ruber van der Linden (mais conhecido como pau pombo). No primeiro há brinquedos para as crianças, piscinas, charretes, vaquejadas e área para piquenique e churrascos, entre eucalíptos que, ao cair da tarde, perfumam o ar.

Fora da cidade, a 10 quilômetros, no povoado Timbó, ainda resta uma igrejinha construída há mais de 300 anos, por um escravo fugitivo, para abrigar uma santa por ele roubada na Bahia. No morro da Boa Vista, quase no centro um registro histórico da idade: ali teria vivido um filho do bandeirante Domingos Jorge Velho, combatente dos quilombos e que, casado com uma índia inhamun, batizou a cidade.

Bancos de trem, antigo ponto final de viajantes da extinta Great Western (que ali encerrava seus trilhos para o Agreste Meridional), agora servem de assento para boêmios e turistas. É a Estação Central Ferroviária de Garanhuns transformada em Centro Cultural com bar, restaurante e teatro. Vizinho ao Centro Cultural está o Mosteiro de São Bento, com jardins, lago e acervo de arte popular.

A 1.025 metros o turista encontrará a mais bela paisagem de Garanhuns, a do Cristo do Magano, construído há mais de três décadas. Além de ser o ponto mais alto da cidade (que tem altitude média de 900 metros), o Magano é também o lugar mais frio, lá a temperatura vai abaixo dos 10 graus, contra a mínima de 13 graus no centro.

O mais importante acervo de ex-votos de Pernambuco, está a 12 quilômetros da cidade, por uma estrada de barro que conduz ao povoado de Santa Quitéria. São centenas de objetos em cera e madeira, representando partes do corpo humano ou animal curadas por interferência da padroeira. A imagem chegou a Frexeiras em 1715, nas mãos do português Severino Correia da Rocha, e desde então, tem sido a herança mais preciosa de pelo menos cinco gerações da família (que detém a posse e o mando do povoado santuário). Além dos ex-votos, a maior atração é a pequena barroca de Santa Quitéria, sufocada sob o peso de muitos colares de ouro, uma preferência que a fé nunca explicou, mas que foi propaganda no boca-a-boca dos romeiros.
O povoado de Santa Quitéria, hoje pertence ao município de São João.(Matéria publicada na página de Turismo do "Jornal do Brasil" de 24.10.1986).

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