Saturday, June 16, 2012

RETALHOS


Rinaldo Souto Maior

Velhos retratos dos avós, dos pais,
e de Miriam que habitam minhas
recordações da mocidade, dos
tempos de menino em Tabocas,
Pirauá e Garanhuns,
onde vivi felicidade, e sonhei os
sonhos sonhados próprios de toda gente!

O canavial, a Casa Grande, cheiro de mel
de engenho, a bagaceira onde brinquei
folguedos com outros meninos dos já
distantes, saudosos e sempiternos tempos de menino.

A casa do meu pai conjugada ao armazém,
onde em Pirauá negociava secos e molhados,
tecidos e miudezas! Seu escritório de rábula
onde atendia pedidos para defender no júri de
Timbaúba presos pobres, desarvorados da
sociedade por roubos, crimes de morte e
defloramento vis.

A primeira viagem de trem, o medo do apito que
senti na velha locomotiva dos ingleses da Great-Western!
A chegada ao Recife, à cidade grande, capital do Estado,
onde pela primeira vez encadeei-me com profusão da luz
elétrica tão diferente daquela que os candeeiros
iluminavam nossa casa!

A cheia do rio Paraíba do Norte, as feiras de São Vicente
Férrer e da antiga Macapá! As visitas, nas festas de Santana,
a Bom Jardim, onde, na casa dos avós-paternos, tomei meu
primeiro banho de chuveiro, milagre do progresso da água
encanada.

A primeira grande mudança, a grande viagem de Pirauá para
Garanhuns, do extremo norte para o sul de Pernambuco.
Da fronteira da Paraíba para a das Alagoas!
Viagem de mudança, tão longa e tão grande que, menino, pensava
não chegar nunca à cidade escolhida por meu entendimento de
menino de cinco anos.

Em fevereiro de 1935 chegávamos enfim a Garanhuns, que pareceu-me
tão monumental em relação a Pirauá; maior que ela apenas o Recife,
segundo meu entendimento de menino de cinco anos.

Nossa primeira casa na rua 15 de novembro, depois, por economia,
fomos morar nos fundos da loja, na avenida Santo Antônio, prédio
que meu pai alugou a Zé Gregório, os fundos davam para rua Santos
Dumont, defronte da oficina pioneira de João Tude!

Fui crescendo em Garanhuns e lá meus irmãos foram nascendo, oito
ao todo que somando-se aos quatro vindos de Pirauá, eu o mais velho
da prole de doze filhos, em seguida Miriam, minha primeira amiga,
muito mais que apenas irmã, muito mais!

O tempo foi passando, correndo tão rapidamente que hoje, reflito,
não sei porque tanta pressa...
Meu pai no trabalho, prosperando, com o crescimento de Garanhuns!
Em 1941 comprou ali, a primeira casa própria, residencial, bem provida,
cheia de calor humano, no lado de baixo da avenida, junto ao Forum e
da Associação Comercial, o número 485 da Santo Antônio, onde Miriam
deu à luz todos seus quatro filhos, aparados por Dr. Godofredo.

Retratos, retalhos de um tempo, que ficaram marcando meu espírito,
retratos que acompanham-me em toda travessia existencial...
Retratos que não foram tirados por nenhuma máquina mas que, de lembranças,
permanecem indissoluvelmente fixados em todas paredes sensitivas do meu
pobre ser...
(Fonte: Jornal "O Monitor" setembro de 1984).

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